quarta-feira, 25 de março de 2015

Não, tu não devias ter ido. Mas era amor perdido.

João me matou
mais vezes do que gostaria de morrer
A primeira vez
quando me sufocou com o travesseiro
no meio da noite
A segunda
quando brincou
de riscar a faca no meu corpo
A terceira
quando falou-me de outra mulher
A quarta vez
quando não me procurou naquele fim de maio
A quinta
quando não se importou
Depois teve uma vez, 
[que não dá pra esquecer]
foi quando me esqueceu
Foram tantas as vezes que ele me assassinou
Em algumas dessas vezes, ele arrependido
tentou me salvar para ser salvo
Fez massagem cardíaca
Pôs esparadrapos no meu corpo retalhado
Não mais falou de outra
Mas na última vez já era tarde
Ele me esqueceu,
eu conformada decorei meu velório
com flores recolhidas nas beiras das estradas
e fechei meu próprio caixão
Chorei por mim mesma.

Eu sou João. Eu me esqueci, eu me matei.

Título: Cecília Meireles

domingo, 22 de março de 2015

João, Jonathan, Jesus

Noite passada sonhei com você
Nunca posso ver o seu rosto 
nesses momentos fragmentados de ilusão
Mas seu nariz continua a ser afrontoso
e suas unhas inacreditáveis!
Igualzinho àquele poema de Adélia,
que lhe enviei junto ao meu coração 
por correspondência

O mesmo diabo que uivava  algemado
nas profundezas do inferno Adéliopradiano,
uiva agora, enquanto te tiro de mim
para lhe pôr em mais este poema.