quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Era inteira na mentira que você dizia

você ainda pensa?

que eu gosto de comer tudo com colher 

e nas minhas meias engraçadas

que eu não alcançava o banquinho alto da sua cozinha

que quando você cozinhava eu sempre lavava a louça

pensa?

eu sempre penso no teu carro estacionado no outro lado da rua 

você com as pernas sob a direção 

sempre descontraído 

teu sotaque tuas mãos em mim 

tuas músicas teu jeito de me cuidar 

tanta saudade 

tuas mentiras 

as banalidades no outro lado da linha

as risadas infindáveis  

a insegurança

minha insegurança 

todas as estórias compartilhadas 

os traumas 

os medos 

as dores da infância 

você nunca mais pensou em mim?

que te escutava

e te esperava sempre feliz 

o ar leve da estrada que nos conduzia 

tua cidade cujo nome me dói ouvir 

as pessoas que nos viram 

as praças onde me levou enquanto segurava minha mão 

meu coração agora no chão 

teu bar preferido 

que poderia ter sido meu preferido 

ficou na lembrança a dança que não dançamos 

o último beijo na boca na frente do meu prédio 

aquele calor absurdo

janeiro inteiro juntos 

como se fosse fácil simples possível 

os meses a seguir que não consegui derrubar nenhuma lágrima 

o bloqueio 

o desespero por querer demais

a falta de diálogo 

o que nunca foi dito 

a distância que você impôs além das nossas cidades 

além de mim 

você pensa? 

no estrago 

no vinho que nunca tomei contigo 

nos meus filmes estranhos 

na companhia confortável 

no meu cheiro 

baunilha 

eu penso 

na rede da tua sacada 

na tua gata 

nos teus livros empoeirados 

na tua psicologia 

naquela camiseta verde 

naquele sexo de manhãzinha 

você tem que pensar em mim

na covardia

na ausência de um adeus 

no silêncio que me deu 

eu penso 

no tanto que eu peço a Deus 

pra esquecer.



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