você ainda pensa?
que eu gosto de comer tudo com colher
e nas minhas meias engraçadas
que eu não alcançava o banquinho alto da sua cozinha
que quando você cozinhava eu sempre lavava a louça
pensa?
eu sempre penso no teu carro estacionado no outro lado da rua
você com as pernas sob a direção
sempre descontraído
teu sotaque tuas mãos em mim
tuas músicas teu jeito de me cuidar
tanta saudade
tuas mentiras
as banalidades no outro lado da linha
as risadas infindáveis
a insegurança
minha insegurança
todas as estórias compartilhadas
os traumas
os medos
as dores da infância
você nunca mais pensou em mim?
que te escutava
e te esperava sempre feliz
o ar leve da estrada que nos conduzia
tua cidade cujo nome me dói ouvir
as pessoas que nos viram
as praças onde me levou enquanto segurava minha mão
meu coração agora no chão
teu bar preferido
que poderia ter sido meu preferido
ficou na lembrança a dança que não dançamos
o último beijo na boca na frente do meu prédio
aquele calor absurdo
janeiro inteiro juntos
como se fosse fácil simples possível
os meses a seguir que não consegui derrubar nenhuma lágrima
o bloqueio
o desespero por querer demais
a falta de diálogo
o que nunca foi dito
a distância que você impôs além das nossas cidades
além de mim
você pensa?
no estrago
no vinho que nunca tomei contigo
nos meus filmes estranhos
na companhia confortável
no meu cheiro
baunilha
eu penso
na rede da tua sacada
na tua gata
nos teus livros empoeirados
na tua psicologia
naquela camiseta verde
naquele sexo de manhãzinha
você tem que pensar em mim
na covardia
na ausência de um adeus
no silêncio que me deu
eu penso
no tanto que eu peço a Deus
pra esquecer.
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