domingo, 10 de fevereiro de 2013

­Amor roubado

   Aquela semana foi tão cansativa para ele, estradas que não o levaram para casa, bares que abrigam todas as espécies de pessoas tristes... E ele esperando aquele sinal de vida, de consideração, de afeto ou qualquer coisa... O telefone não tocou nas duas ultimas semanas. Não havia esperança, nem dor. Jeff sabia que ela não iria ligar, mas de qualquer maneira ele ainda pensava. Pensava muito. Porque ele não queria virar a página, nem trocar de livro... Talvez fosse obsessão para saber como seria o final, mas eles sempre se perdiam nas primeiras vinte páginas. Ela interpretava a falsa ingenua, ele nem desconfiava que nessa história era um completo frágil. Com seus quase trinta anos, viver para ele, era correr por aí com o seu violão nas costas e cantar até a madrugada o abraçar com tamanha melancolia. Ana portava nos seus dias a rebeldia da idade. Não sabia o que queria, mas queria o que não podia ter. 
   Na ultima quinta-feira que passaram juntos, ele nem se atreveu a contar dos dias que passaria longe da cidade, ela nunca entendera... Não era nem ciumes, era saudade unida ao medo. Ele errou em não ter deixado ao menos um bilhete. Ela ficou tão incrédula, tão brava. Sempre confiou demais no poder de persuasão que tinha sobre ele. E não estava errada, ele era louco confesso por ela. Mas a música o definia como parte do mundo, então ele foi sem avisos. Nesses dias todos, ela parecia ter esquecido ele. Não atendia o telefone, e nem retornava ligações. Ana era egoísta, não podia aceitar a distância que a música queria impor entre eles... Passou semanas e mais semanas. Ele cada vez mais longe, se jogava em suas tentativas frustradas de contato. As oportunidades aumentavam para ele difundir sua carreira na cidade grande, ela só lembrara dele sem raiva quando escutara sua voz no rádio. Ele cada dia mais enfezado por tamanha birra dela, por parecer não notar seus esforços para continuar cantando e ainda não deixar de ama-la. 
   No decorrer dos seis meses que se alastraram... Jeff escreveu-lhe diversas cartas, confirmando seu amor, pedindo que pegasse o primeiro trem e viesse ao seu encontro. Todas as cartas ignoradas. Ele nem sequer se dava o trabalho de acreditar que pudera ter acontecido algo, telefone quebrado, carteiro distraído, algum problema com o endereço... O problema era ela, com sua facilidade de desapego. Ela o amava, sim... Amava de verdade. E sabia que não seria mais uma garota interiorana que ele conhecera naquele buraco de pouco mais de cinco mil habitantes. Completando oito longos meses da sua partida não prevista, ele retorna no intuito de leva-la embora junto dele. Chegando na cidade, soube... 
   Ela se casara um mês antes, com seu primeiro namorado. Ela estava feliz, Jeff estava entorpecido. Ele não sabia se chorava, se esmurrava a primeira pessoa que se pusesse em sua frente. Ele pensou em suicídio, em homicídio. Ele precisou ir embora dali, para finalmente saber que ela não precisava dele apesar de todo amor. Nunca mais se viram, nunca mais deixaram de se amar. Ele cantou até o fim, para nunca mais querer voltar.

2 comentários:

  1. Olá Hellen, boa noite!!!

    Que linda história... Um pouco triste dependendo da ótica...
    Mas, linda, descrevendo pra mim, as vertentes que o amor guarda aos seus parceiros, comparsas, ou ate mesmo prisioneiros...

    Gostei muitão!!!!

    Beijo grande!

    Beto.

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  2. Parabéns, amei seu post.


    lagrimasdeumgaroto.blogspot.com.br/

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