quinta-feira, 29 de agosto de 2013

João que não dorme em mim

Grande admiração me causam
essas cheganças
Me vejo chegando
às raias do contentamento

Penso diuturnamente
nessa miniatura mística
que ambiciona tal
alegria desfigurada

Escrevo com vontade
cosmogônica,
gosto como se não tivesse
inventado nada
Ou inventado por completo

Como se eu fosse
impecavelmente mais errante
mais sucinta a brevidade
espreitando a vontade que não dorme

As inspirações
saem da sombra sempre tão ingratas
Fito com zelo
o que não nasceu só em mim

Quero falar
mas não posso
o que me interrompe
também pode me romper

Num disfarce pudico
nos calamos
mais uma vez
de vez

Nós que somos tão sujos
não nos importamos
de parecer um lixo sagrado

26/08/2013

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Carnificina literária

Se te moldasse
com arame farpado
talvez só perderia
alguns dedos

Te moldando
dentro dessa linguagem substancial
eu perco esperança

Mas todo drama
vale um romancezinho
bem água com açúcar

Se te mandar ir pro Inferno
é capaz de eu ir junto e carregar suas malas

Se te mandar pro Céu
Deus não te aceita

Eu que te aceito
não tenho sorte
do amor tranquilo
à la manière de Cazuza
com sabor de fruta mordida

Mordida
vivo eu
dentro
desse
pecado

Por que dou risada
quando sei que fiquei magoada?

(Foda-se você, foda-se todos nós)

sábado, 24 de agosto de 2013

Me descubra sem espanto então

Olha, não me acomode
em tuas estranhezas
Não me corte pela raiz
Ilusão nenhuma é à toa

Sigamos escrevendo
nossos prantos
E como já escrevera, Adélia
morra a puta que pariu
minha (nossa) tristeza

Nem de leve, imaginava
que me pudesses ler
Meu orgulho era pura fraude

Vou desejar daqui em frente,
escrever coisas bonitas
para te encantar o bastante

Não me aborrece que ache graça
de onde te coloquei
Conduzo tal exposição
com medo, medo sim

Querendo que o agora
não se torne tão cedo
o depois

É bom passear pelas palavras,
te encontrando no fim de todos
os poemas, João

Posso eu pensar que
não sou digna de te escrever assim?
Porque tua imagem-poema
me põe no ombro
e me cura de ser covarde

Mas tais versos simplórios
não garantem o paraíso

Até sendo bons
somos maus
Todas as confissões escritas,
pensadas e nunca ditas
São tão imundas, que me caem bem

E você nunca cai em si
cai dentro de mim.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Tem sido João

Tem As Três Marias em forma de sardas no peito
Ela tem um apreço desmedido pelo teu nome
Se comove com propagandas na televisão,
quer mais do que discutir Caetano
Ela diz que como Drummond, 
você também é espirituoso e devasso

Ela o espera sempre que lembra
e o supera sempre que pode
Ela não te distraiu 
e virou pó

"Na selva castanha dos teus olhos, 
eu digo salve-se quem puder."

domingo, 18 de agosto de 2013

João (meu) alguém

Naquela conversa
tu deixou de ser o João
e eu a Helen - com um L só

Falamos sobre futebol
e vícios

Da falta de tempo
ao futuro

Nem parecia
que um dia ia faltar o que falar

O que parece mesmo
é que regredimos no
diálogo básico

Eu não sei te dizer oi
sem lembrar dos meus receios
Você não aceita o meu afeto 
sem estragar com meus devaneios

Mas mesmo assim
tu consegue ser
a poesia que chega
nas tardes cinzas

Não tivemos tempo
de nada
mas te lembro sempre

O dia 12 de todos os meses
tem o teu nome no meu calendário

E eu tenho você
no coração 

sábado, 10 de agosto de 2013

Quando tudo se torna ofensa

Descamando a pele da boca 
com os dentes nervosos
Enquanto seus olhos abrigam açudes 
que desafiam as represas
Ele se aproxima dela e nada diz
A raiva contida faz o ambiente

A sombra do que não é dito
constrói novas paredes
Suas palavras conhecem o torpor

E ela reflete que essa paixão
é mais uma maldição que a vida joga sobre ela

O perdão não existe no silêncio
E esse homem sentado ao seu lado
não quer se desculpar por gostar de outra pessoa

Ele só gostou dela por toda a tristeza escrita
Pela poesia abatida, 
a fragilidade depositada em tudo que pudera ler

Mas juntos, ela alcançava a felicidade
agora ele precisa ir embora para usurpar outras melancolias 

Ela se desprende da raiva e pergunta

Por que?
Em pé a sua frente, por entre ombros ele responde
Gente feliz é feia. 

E se foi.




segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Me assistindo queimar

                                                                                       "E não demora nem um pouco 
                                                                                           para eu cair do precipício"

Todos os livros que me restam ler
é meu grande impedimento de abraçar
a tristeza do mundo

Num sobressalto, preciso escrever 
amigos com prazo de validade
desculpas que mesmo tarde chegaram até a mim
reciprocidade extinguida

A falta do que sentir
Os romances todos desesperados
além das dores inventadas
além do que não sai no jornal

Escrevendo cartas
para o Tempo 
que as recebe com mãos de tesoura

Agora
é
sempre

Sempre
não
quer ser 
agora