segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Menino, deus urbano, neto do sol.

                               [com você eu tenho mesmo que me conformar]



   Ele gosta de beijar homens. E ele queria um lugar que pudesse beija-los e ser visto sem pudor e espanto. Ele quer beijar homens durante o dia, longe das quatro paredes e longe do breu da noite. Ele é um desses caras, extremamente bonito que a mãe cobra dois netos e que arruína mulheres com seu perfume e olhar por entre óculos escuros ao cruzar a avenida. Ele quer beijar outro cara, mas ele arquitetou um personagem para si mesmo, aquele que vive nos bares se deleitando nos pescoços da juventude feminina da cidade. 
   Mas ele beija rapazes porque é o que mais gosta de fazer. Ele está beirando os trinta anos e só quer beijar outro homem em frente ao quiosque, ou dentro do mesmo bar que tenta ter uma ereção ao beijar uma mulher, duas mulheres por madrugada. Ele parte o coração das mesmas quando se deita com elas e faz tudo certo, goza e oferece orgasmos e afagos (e)ternos. Depois nunca mais. Ele continua vazio. 
   Este papel está lhe cansando. Ele quer beijar o seu rapaz no meio da praça central, depois encostar sua cabeça no ombro dele e suspirar após um dia de poucas vendas no trabalho. Ele quer que a sociedade entenda que ele gosta mais de ser penetrado do que penetrar. Mas ele penetra vidas e borra batons até o raiar do dia enquanto pensa que pode tentar fazer com que suas vontades sejam respeitadas mais tarde. Agora ele só quer ser o homem que beija mulheres como quem toca em algodão doce. Ele é doce, e há sempre alguém que se desfaça.

17/10/2016



segunda-feira, 7 de novembro de 2016

E ele é, o meu amor pelos espaços

De manhã eu queria não lembrar
Minha desventura é recordar
Do andar majestoso
E de cada ruga ao lado dos olhos
Verdes lindíssimos]
O aroma amadeirado e de notas fortes
Mesclado ao cheiro de solidão opcional
Saudade
de cada centímetro da sua pele
onde eu pude habitar
Os dias têm sido tão angustiosos
Sem a certeza de que você ainda me lê
e de que aceita essa minha paixão estrófica
Aceita?
Deixa eu te purificar com minha interioridade invulgar
Como se eu fosse divina
Como se eu fosse profética
Como sou sua.


Título: Florbela Espanca