sexta-feira, 1 de julho de 2016

Porque se você pisca, quando torna a abrir os olhos o lindo ficou feio

Eu sonhei que lhe via
Acordei às 5 da manhã e pensei nisso 
com afinco e estranheza
E no desenrolar do dia
senti que poderíamos nos ver 
a qualquer minuto
Alheios e desatentos pela cidade
Mas foi naquela esquina que se recriou 
meu silencioso espanto
Você no outro lado da rua
Me olhou para me enxergar
Te olhei para inventar
[Mais esse poema]
Me olhou como quem um dia 
comprou um beijo 
Como quem compra um jornal
E senti a tristeza velada de Drummond
Me olhou
Te olhei
Olhou para outro lado
Olhei para o chão
Não nos conhecemos mesmo
Você ter tirado a minha roupa
Eu ter te escrito dezenas de poemas
Jamais nos farão conhecidos
Apesar de eu saber o seu nome há 4 anos
Não, você não se chama Dionísio
E nem tudo o que escrevi foi inventado
Suas descrições por mim salientadas
Te fazem previsível
E de mim pouco seletiva.

25/06


Título: Caio Fernando Abreu