domingo, 28 de abril de 2013

O homem permanecido só durou a noite

Disse-me que gosta tanto, 
de ver a chaleira chiar.
Como se com nós conversasse, 
contando urgências...
Ele desencaminha nosso assunto, 
ganhando meu tempo.
Faço seu café, 
tentando lhe devolver o foco.
Ele me olha como quem quer tudo,
e eu só quero algumas palavras.
Já passara da meia-noite
e ele agora troca o hálito do ar
com seu cigarro barato.
Pergunta se tenho por hábito
oferecer café para desconhecidos
largados no meio fio...
Disse que o conhecia
talvez de outra louca vida.
Ele disse que louca sou eu;
e que meu café é amargo.
Pediu-me papel e caneta,
colocou o bilhete em minhas mãos
e saiu sem dizer nada...
Num espasmo li:
''O demônio que habita em ti, já morou em mim.''
Só consegui pensar,
que não perguntei o seu nome.

Desculpe a delicadeza. 

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Quero ver João

Do crepúsculo ao meio dia,
tu és bonito sim...
Receptáculo do Sol, tão soberano...
Pássaro dos ventos de junho
Mistura de Jeff Buckley e Caetano Veloso. 
Infinito rascunho dos Deuses
Meu devaneio poético, minha dor mais honesta
Tu és bonito assim... Abençoado, profano.
Teus olhos castanhos se alimentam da minha sanidade
Tua barba, pescoço e mãos dominam minhas fantasias eróticas
Nosso sexo de manhãzinha decora o dia
Tua boca quente combina com minha pele que ferve por ti
Não me deixa dormir, se não for mais voltar.
Não quero acordar, se isso nunca aconteceu.



terça-feira, 23 de abril de 2013

-

Amanheceu uma paz em mim.
Acordei sem a exigência de nada.
Foi bom me conhecer enfim.
Deu até vontade de cantar, cantei.
Abri a janela, a Lua quis me contemplar.
Descobri na exaustão, a poesia do entardecer.
Dancei feito pião, riscando o piso velho.
Na leveza duma pipa, voei sem sair do chão.
Renovei a palavra ''existir'' no meu dicionário.
A vida tá linda.

(Serão outros olhos ou uma nova perspectiva?)

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A cor que me falta

As atrações chegam com pressa. Depois de semanas no mais absoluto sossego... Ele retorna nas ligações desconhecidas, no silêncio que atordoa. Nessa mistura de gostos e confusões... Digo que cada palavra é um eterno afago, cada suspiro é um amor bem aproveitado. Nos rostos desfocados, em toda essa distração ocasional. Ele passa no outro lado da rua e não me vê. Eu nem o conheço, por vezes troco até o seu nome... Num charme desengonçado, ele sustenta todos os problemas do cotidiano. Ele nem sabe de mim, e dele eu só sei o que preciso. Não carrega o peso da existência e nem a preguiça dos dias fáceis. Ele devora minhas vontades apenas num mastigar, ele sabe viver no delito.

Continua...


quarta-feira, 10 de abril de 2013

Até deixar de ser poesia e virar tédio

Tenho pensado em você, João. Em como as borboletas de fevereiro se tornaram as mais bonitas depois que trocamos as primeiras palavras. Sim, acho que você é a atração mais estonteante que encontrei pelo caminho. Talvez eu já tenha te escrito isso em outras palavras, mas é bastante necessário eu reafirmar... Entendo que eu gosto de me encurralar com esses estranhos interesses pelo que não consigo tocar, preciso me prender em alguma coisa. Não gosto mesmo da certeza. E você é, esse feixe de luz que me dá vida, que me acorda por dentro e é demasiado difícil escrever isso sem parecer que estou me apaixonando... Não estou, eu acho. Como disse, não gosto da certeza. Não quero me blindar, então confesso... Gosto quando você ressurge do nada depois de me deixar com uma saudade boa, tuas intenções escondidas contornam minha malícia evidente. E minha imaginação desequilibrada esquece dos mais de quatrocentos quilômetros que nos separam. Teu falso desdém para com tudo, me agrada muito. Essa despreocupação em ser ou parecer, também me convida a te desejar pra mim. Você não sabe, mas poderia ser o meu outono se quisesse.


Alice Ruiz me completa hoje,

se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer,
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso,
de noite uma farra
a gente ia viver com garra
eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto
ia ser um riso
ia ser um gozo,
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio
daí, vá ficando por aí,
eu vou ficando por aqui,
evitando, desviando,
sempre pensando,
se por acaso a gente se cruzasse


sábado, 6 de abril de 2013

Quando ninguém assiste...

Todas as noites quando caminho de volta pra casa, atiço as lembranças banais no intuito de compreender a vida, entre a rotina pesada e as horas vazias... Sempre cabe você no intervalo dum suspiro. Vontade de lhe enviar outra carta, para ficar abandonada em meio as outras cartas que enfeitaram teu passado distante. Não importa, enfim eu só quero escrever para dizer que eu posso ser o teu refugio quando precisares fugir de um dia chato. Escrever também, para lhe pedir arrego, pois esta é mais uma madrugada que eu não vou dormir sem antes desejar um amor ideal. Meu idealismo não envolve esse amor que você não entende. Então você me enche de mágoa, e eu penso que nunca sairei do chão. O que não foi dito ecoa pedindo perdão pelo tempo perdido. Mas te amar é isso mesmo, escrever cartas que se perdem do destino... Prum destinatário coberto de desdém. 


terça-feira, 2 de abril de 2013

Abril, me abraça

Ando pela casa, te vejo no escuro
Não consigo lhe tocar...
Me vejo na tua sala, e recrio o abismo.
Tu permanece em tudo que não finda. 
O que eu não disse...
Apodreceu, desfragmentou-se
Sento para escrever,
Ao som da mesma música
Que nunca para de tocar.
A escuridão te realça,
O medo nos veste bem.
Queria eu, desgastar a sola do meu sapato...
Carimbando a poeira da tua rua.
Assim, quando tu me ver passar
Pense em passear comigo.
Prevejo mais solidão,
Porque tu não vais vir
E eu não posso te ligar

Dorme amanhã só comigo...
Depois eu sigo adiante.