quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O meu íntimo ferve e não está quieto, os dias da aflição me surpreenderam

Aquela foi uma boa cena
Sua mão pousando sobre a minha
Eu contendo espasmos de sobriedade
Desejando que as horas
não se diluíssem na correnteza
Mas a fugacidade
sempre espera pela aurora
Você tocou na minha mão
E eu achei isso mais íntimo
que seu beijo na minha boca
Meu coração feito pandorga
voou e se enredou
nos galhos espinhosos das suas íris


Ajude-me, Senhor


Título: Jó 30-27

sábado, 26 de dezembro de 2015

Os girassóis continuam lá, se destacando entre os pastos verdejantes. Eu estou aqui, ainda comovida. E você, o que lhe faz chorar?

   Vai anoitecer e eu gostaria muito de escrever algo que valesse a pena, que valesse esse desespero. Algo como aquele conto do Caio Fernando, em que a mulher entendeu e aceitou, desaparecendo da janela no exato instante em que ele atravessou a avenida sem olhar para trás. Na verdade eu gostaria de ser ela. Mas se fosse, talvez Júpiter não encontrasse Saturno. Pois eu não teria essa sorte.
   Se isso for alguma forma tortuosa de paixão descrita nos contos de Caio, eu obviamente precisarei de uma bebida forte e mais do que 12 horas de sono. Eu precisarei dos Deuses ou Demônios que me puseram naquele lugar aquela noite. Os mesmos que enxergam o deleite no meu terror.
   Sua pele alvejada não sai do meu imaginário, me faz escrever coisas que me espicaçam sem pausa. Ontem na estrada vi um lençol de girassóis e me comovi e te pensei, como se fosse possível te ligar e dizer isso tudo. Como se fosse possível eu ser especial pra você, como você é pra mim e todos aqui já sabem. Te escondi atrás de Dionisio para não profanar o seu verdadeiro nome. E do meu nome você lembra?
   Anoiteceu, meu bem. Hoje você vai levar mais uma para sua casa, ela não desconfiará que vai estar tirando a roupa para o meu objeto literário. E amanhã você vai continuar vazio. Eu acho isso lindamente triste.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Continue sendo silêncio, porque temo você dizer algo e não ser mais interessante

Você possui o charme
da beleza suja
E a vibratilidade disso
me arruína
e me encanta,
tal como um delírio lisérgico
As sensações são irrefreáveis,
o que for estático
não me pertence
Meus gestos meticulosos
não abreviam e nem adiam
a perdição
Você consegue sentir
a estridência destes versos
mal feitos?
Você sente algo além
do fascínio por si mesmo?
Queria lhe conhecer, Dionísio
Mas está escrito
nos quatro cantos
que, só se pode gostar
de outra pessoa
quando a mesma nos é
desconhecida
Então não me atrevo
a quebrar este feitiço
Aceito a atração
que pelos Deuses me foi imposta
Mas por enquanto
só ouso dizer que
nem os esquadros de Calcanhotto,
nem as cores de Almodóvar
e Frida Kahlo, são mais bonitas
que a cor dos seus olhos.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Meu peito bate na laje

   Aonde tu andas, Dionísio? Ou aonde ando eu? Não te encontro, não te vejo. Abstinência. Entende? A única coisa que eu sabia que ficaria comigo. Mas preciso vê-lo em qualquer rua, em qualquer esquina, preciso vê-lo me vendo. Suas feições nas fotografias são tão miraculosas, têm vezes que tu pareces uma obra barroca, e nessa contemplação toda, vou ficando oca. Tu és desalmado, mas eu queria tê-lo uma vez mais, apressadamente, lentamente... Tanto faz, se me fizeres viva de novo. Peço ajuda a Drummond, que me socorra, pois não sei mais fazer versos. Tu vives bem com a desimportância de não me ver nunca mais e tomo de assalto as palavras de Carlos, (digo seu nome porque sou uma ladra respeitosa) como um dia já dissera por mim:
Dá mastigados restos
à minha fome absoluta
E eu aceito, calo no absurdo de tanto querer.

Título: Carlos Drummond de Andrade

13/12/2015

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Me olha como se não tivesse me visto nua e nem lido a minha alma

   Começou a chover. E preciso dizer que não gosto mais de chuva tanto quanto não gosto de cenoura. Sinto-me angustiada, com saudade do que fui e jamais voltarei a ser. Ingênua. A vida é mesmo uma produção de Ingmar Bergman. Pensamentos corrosivos deterioram minha mente, não por punição. Mas maldição, por ter sido crédula demais. A poesia não mais remedia nada, eu sou a própria pedra no meio do meu caminho. Ontem me dei por conta que lhe entreguei aquela carta com um erro de concordância, queria procura-lo para dizer que não sou tão desligada assim. Foi minha emoção exibida que cometeu este erro, mas acho que combina comigo ser a errada. 
   Você não tem nada para oferecer-me, além de uma educação acanhada, então posso aceitar seus míseros olhares sem traduções, até sei lá quando... Será medo? Espanto? Ou uma singela admiração? Nunca saberei, e nisso você seguirá me olhando, até não me reconhecer mais. Porque na verdade você nem me conhece. Você me olhará até eu ser mais uma pessoa indiferente dentre as outras com quem já saiu daquele bar. Eu nunca saberei o que você pensa, e isso vai me importar e me doer até não me olhar mais. 
   E depois? Não sei. Até sete dias atrás eu esperava não mais escrever sobre isso. Há três dias nos olhamos em meio à multidão, como duas pessoas que jamais caberiam numa conta de mais. Talvez eu já tenha entendido, mas o entendimento quando chega, chega sempre brusco. Irônico demais, até para mim. No último sábado lhe vi por menos de 5 minutos, mas me perturbou a noite toda. Lembrar dos seus olhos noturnos cintilando em meio àquela gente toda me causa arrepios até agora. Você me causa danos, somos uma causa perdida.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Pense um pouco, beba bastante. Depois me conte direito. Pense e te pareça, senão eu te invento por toda a eternidade

   Você me deixou tão exposta, todos notaram que era por você os meus suspiros. Você desfilava sua arrogância naquele ambiente carregado de egocentrismo, e assim, torturava meu bom senso enquanto te via passar sem me olhar. No fim da madrugada se mistificou na minha frente para falar de tudo o que escrevo. Como quem só pode oferecer uma ternura distraída, talvez ensaiada. Não é o bastante, meu mosquito do diabo. 
   Pedi quase que desesperadamente para olhá-lo um pouco mais, com encanto. Pedi para olhá-lo para enfim matar este personagem. Quis gritar no instante em que fazia isso. Falei que o batizei como Dionísio por representar a loucura. Você me olhou de um jeito louco após escutar isso. 
   Acho mesmo que você precisa morrer agora. Eu podia morrer na hora em que demorou seus olhos indizíveis em mim pela última vez. Eu sinto muito, Dionísio. Você não. 

Espero não escrever mais sobre isso.

Título: Paulo Leminski


16/11/2015

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Melhor calar quando teu nome é paixão

   Acabou o açúcar, será que posso ir na sua casa e usar isso como desculpa para vê-lo? Hoje faz doze dias que lhe vi pela última vez. Ontem vi sua mãe pela janela da sala, imóvel, de costas com um livro nas mãos. Acho que ela gostaria das coisas que escrevo para você. As mesmas que você lê e nada diz. Por medo, quiçá, susto. Ou apenas, desapreço. Meus amigos dizem que você não tem empatia por mim, só essa pose de bom homem que sorri ao me ver, por não querer inspirar nada. 
   Você só pode devolver sorrisos por todas as palavras abrasadas que lhe encaminhei. Você só pode me olhar e rir por dentro, por me ver sendo uma mulher que lhe quer mais do que o comum, como tantas outras por aí. Elas também lhe escrevem cartas, Dionísio? E o que você sente? As deixa sem respostas e quando as vê, sorri, prometendo o mundo, como faz comigo? Juro que quero lhe esquecer, mas também juro que te quero de novo só mais uma vez, para deixar de escrever esses psicodramas. 
   Eu esvazio pateticamente meu coração de maneira assídua, porque o psiquismo de cada palavra não dita me faz tão mais fatalista. Enfatizando uma fragilidade inexistente. Não sou delicada, Dionísio. Só podem me comparar com uma rosa por causa dos espinhos. Se escrevo coisas bonitas, é porque sinto-me enfear a cada segundo que me leva embora.

Título: Hilda Hilst

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Não escrevo mais cartas, só palavrões no muro: Foda-se. Morra.

   Não quis funcionar a primeira caneta que peguei para escrever isso. Pois então, você mensura o tamanho do meu encanto e tripudia em cima dele só para me mostrar que é mais feliz sendo vazio. Mas Adélia sabe, se você dissesse vamos comigo ao inferno passear eu iria. Iria porque eu consigo matar no peito sua sordidez e ser ainda mais imunda. Me pus nas suas mãos dentro daquele papel dobrado, você me olhou de modo inominável, para meu desejo engatinhar construindo pontes para dentro do seu corpo sorrateiro.
   Perceba que seu narcisismo se sobressai nestas linhas. Não foi preciso de cartomante desta vez para dizer-me que fui longe demais. Estou com aquela sensação horrorosa, aquela que me dá sempre quando sei que preciso matar um personagem torpe. Não posso lhe matar ainda, Dionísio. Você precisa permanecer em mim, não só na poesia. Eu quero lhe cortar em pedaços com a minha faca enferrujada, quero ver seu sangue sujo descendo no ralo da pia, enquanto eu tento limpar as marcas das unhas e bocas alheias que decoram a sua pele, agora minha. 
   Vou banha-lo na pimenta do reino até o perfume barato de todas as vadias e veados da cidade abandonarem você. Cozinharei seus músculos com orégano para saborea-los no final da noite, enquanto vislumbro seus olhos desencantados dentro do vidro mais bonito. Vou ferver seu coração com erva doce, pode ser que este chá me acalme. Seus ossos, os deixo para minha gata, Juliete dará conta. 
   Você é tão especial, há quem mataria por você... Mas você nunca se contenta. Quer ser o dono da loucura, da esbórnia, do pecado da carne. Quer ser o primeiro a levantar a taça e o único a dar o último gole. Quer as festas, a libertinagem, a luxúria. Quer os olhos das camponesas e dos forasteiros sobre você, porque o que te faz gozar é a soberania. No entanto, você é só um homem comum, enaltecido pela multidão. Um mero objeto de prazer ao corpo, vitrine da sociedade. Meu objeto-parco-literário.


Título: Adélia Prado

domingo, 1 de novembro de 2015

Posso te olhar enquanto tu decides o que fazer comigo?

   Tu apareceste no meio da madrugada, se destacando entre os bêbados e loucos da cidade. Quis recuar, quis sair correndo dali, queria que não me visses. Mas no instante em que pensei nisso, tu se recria na minha frente e me sorri sem saber o efeito que isso causa em mim e me entrega palavras difusas e me abraça e te abraço com fúria com medo com loucura. Tu me sorriu dilacerando minha sanidade. Eu lhe entreguei outra carta, acho que virei mensageira desta atração impossível.
   Tu estavas debaixo das minhas unhas novamente, de forma mais fugaz que a última vez. Eu lhe acariciei selvagemente o torso. Abotoei sua camisa e este momento viu quem quis ver. Sinto ciúmes desse teu corpo, queria muito cobri-lo com o meu. Sempre o mesmo bar, sempre o mesmo olhar. Tu és diabolicamente belo, tu parado ao meu lado, me convidando a fitar cada extensão do seu rosto na claridade miserável que o ambiente nos ofertava. 
   Não tem um fio de tua barba que eu ache feio, e o contraste da meia-luz exaltou ainda mais teus olhos de gato. Por que tu brincas comigo, Dionísio? Me cobiças tanto se já me tens. Eu me dei pra ti. Por inteira. 
   Meus olhos tristes são teus, meu corpo anêmico também. Eu sou tua. Então finjas que não sou só uma garota no bar, que eu finjo que não sou só isso pra ti. Finjas que minha poesia o impressiona, que eu finjo que escrevo muito bem. Meu mal.

sábado, 24 de outubro de 2015

Eu faço versos como quem morre

Ah, Dionísio... Minhas mãos são feias
Não são dignas de lhe tocar a face
O que somente me é permitido
é acomodar a caneta entre os dedos
e lhe afagar no papel
Os que cercam-me acham injusto
eu lhe devotar assim,
o impossível
me interessa muito, vos digo
Todavia, o platonismo deste momento
me corrompe as veias todas
Seus olhos verdes 
profanaram toda minha desventura 
de viver assim 
Assim, rabiscando profundidades
Não quero ninar esta imprudência, 
mas ela cai no meu colo implorando por zelo 
Discuto comigo mesma, 
perco-me em reflexões
Sei o caminho que devo tomar, 
e vou por outro 
O mais oculto, inacessível
Venho sonhando contigo, Dionísio, 
até dormindo 
Sonhos quentes, 
como o verão que se aproxima
Posso dizer 
que sinto pena dos homens 
que me perdem? 
Essa é uma constatação 
quase que irreproduzível, 
se tu me conhecesses além, 
verias  que sou humildezinha, 
quase vil
Mas sinto pena deles, 
porque poderiam virar livros 
se quisessem
Tu, por exemplo 
Não sei se socorrerás 
a centena de poemas 
que se atravancaram no meu lirismo
Das vezes que me leu, 
não disse-me nada
Talvez lhe tenha ofendido 
com a minha pretensão poética
Mas não quero lhe imaginar 
tão vaidoso e mesquinho, 
ao ponto de silenciar-se 
diante do meu afeto gritante
Se eu fosse indiferente,
tu serias o que?


Título: Manuel Bandeira

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Ilusão dionísica

Os cosmos vibram e anseiam
por mais um novo poema

Vênus se entristece por mim, 
por eu não ter mais ânimo pra isso 

Escrever sobre pessoas rasas 
virou meu fado permanente

O homem possuinte dos olhos verdes 
quis me ver passar junto aos transeuntes

Porque eu fui mais uma pessoa
que lhe tocou sem realmente tocar

Nem astros, nem cosmos, 
búzios e cartas 
podem fazê-lo me notar

Eu cheguei nele 
com minhas palavras dispostas 
e com a alma em letargia

Ele nem sonha que é meu Dionísio, 
minha escultura greco-romana, 
minha lira mal feita

Se sonhasse, não dormiria mais
E eu digna de pena,  
sempre querendo me ancorar nestes cais 

Meu alimento queima no fogão 
enquanto escrevo isso, 
eu queimo inteira por ele

Por ele não me querer por tudo isso.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Chico sabe, que ele me comeu com aqueles olhos de comer fotografia. Mas foi só isso.

Dionísio se desfez do meu encanto impalavrável 
E eu voltei a não ter norte 
Joguei as palavras no ar, para que ele as pegasse, as protegesse 
Mas nada fez
Ficou as observando, com desdém, quiçá medo 
Chegar como quem quer tudo, não foi uma boa ideia 
No entanto, eu sou a dona dos sentimentos intempestivos
Ele decidiu que seríamos nada, 
eu só posso esperar que a Poesia me abençoe
Já que os Deuses não me desculparam
Talvez ele tenha sido mais uma pessoa rasa 
que tive o infortúnio de encontrar pelo caminho, 
cuja pessoa encobri com minha profundidade
somente para comover os meus dias
Mas a comoção não foi libertadora
Eu me liberto agora, dessa paixão monumental
Paixão engessada, criada para não ser.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Hilst que me perdoe II

   Rasgo minha pele só pra ver como sou por dentro... Pois, não sinto borboletas sobrevoando meu estômago e de beleza interior nunca entendi nada. 

   Rasgo minha pele para ver o que há nas entranhas, nas tripas, nos ossos... Mas não me enxergo em nada. 

   Onde estou? Hilst, disse que eu não me movo de mim. Mas será que eu fui eu, enquanto escrevia isto?




























15/09/2015

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Os Deuses precisam me desculpar por esta utopia

   Eu poderia fazer um chá e tentar dormir, agora mesmo 12:32, e acordar só amanhã. Mas esse deslumbramento não iria me abandonar nem com um sono profundo. Não paro de pensar naqueles olhos sobre mim, Adélia Prado entende essa minha nova paixão que gosta de judiar. Levo dias para conseguir formular uma frase que seja, para aliviar meu pútrido coração que nunca se restabelece, parece ter uma inexplicável atração pelo abismo. Estou apaixonada pelo homem mais alucinante da cidade, o encontrei naquele bar e me desencontrei de mim. Eu que nunca quis me achar. 
   Eu só queria mais tempo, tempo para traduzi-lo na minha pele e sentir medo e sentir o furor e sentir e sentir e apenas sentir. Estou caindo, e a tentação não está me alegrando. O que eu faço? Um banho gelado não vai esfriar minha mente que borbulha de encantamento. Estou cansada. Minha poesia não o alcançará. E eu não posso chorar por isso. Mas é desgastante. Ele é um homem sensível, mas a humanidade lhe comove mais do que a arte. Meus versos e minhas linhas corridas não vão lhe comover. Ele só vai correr de mim. Estou com medo de mim. 
   Eu queria lhe esquecer, mas a cidade é tão pequena. Vai me esfregar aquela escultura renascentista nas minhas fuças na mais próxima avenida. Ele sofre pelo mundo doente, e eu tenho medo de inventar uma nova doença por causa dele. Um amigo disse-me que fui picada pelo mosquito do diabo, receio muito, porque é a crua verdade. A verdade tem me agredido. Há madrugadas em que sonho com ele, e acordo pedindo perdão aos céus por tamanho disparate. Ele sabe que é uma divindade poética mesclada aos personagens mais boêmios e insanos de Bukowski, ele sabe da loucura, ele sabe do êxtase, ele sabe que seus olhos podem lhe garantir quase tudo e eu só quero saber se seus olhos lhe salvarão sempre. 
   Ele me faz ter vontade de escrever sem pontos finais, porque há muita coisa nele que eu desejo descobrir. Sobre todas as pessoas que escrevi, somente para ele quero mostrar tudo. Para que ele venha lembrar de mim pelo que escrevo, tal como Caio F. queria tanto. Eu poderia citar todos os meus escritores preferidos para tentar dizer o que preciso dizer, mas não sei o que quero dizer. O torpor começa quando eu penso. E tenho pensado diuturnamente. Como se ele fosse uma criatura mística que tenta em vão me deixar em eterno estado de desassossego, logo eu, que possuo uma alma anarquista. 
   Oscar Wilde escreveu que a paixão é um privilégio dos que não têm nada para fazer, mas ele também escreveu Dorian Gray, e veja bem, a minha divindade-poética-e mística também é a personificação desse personagem profano. Será que eu quero apenas o corpo dele repousando sob o meu ao findar a noite, para manter-me nesse estado perpétuo de adoração para ter o que escrever? Só sei que quando o vejo, fico louca. Meu olhar tenta se estender no dele, mas a ilusão me belisca forte. Quer trazer-me para a realidade que me parece tão irreal. Tudo culpa da literatura. 
   A vida dentro de um quarto trancado após os raios do meio dia, com alguém entorpecido pelo álcool e pela falta de tato só é atraente dentro das narrativas do velho safado. Fora isso, a solidão quer nos mastigar a todo instante. E o vazio sempre aparece no reflexo do espelho sujo. Tudo é muito decadente. Ele me intimida de modo imensurável. Essa tal sensação me acalenta e esbofeteia ao mesmo tempo... Porém, escrever sobre ele, tem colorido a minha vida - com o caos do problema - igualzinho àquela canção de Belle and Sebastian. Ele pode ter quem quiser, mas será que quer alguém? Ele é uma incógnita ambulante, e eu gosto disso. Não sei se ele é feliz ou triste, eu ficaria por horas escutando ele falar sobre o seu descontentamento sobre a vida e amor pela mesma. 
   Ele, nessas semanas todas tem sido ele. Eu tenho medo de assustá-lo, mas não consigo ficar quieta. Acho que este encantamento não deve ficar preso no papel, se não fará mal a ninguém, além de mim. E eu não quero me sentir mal, a minha poesia não merece me ver assim. Ele desdenhou daquele poema que lhe enviei, e eu segui a escrever. O incômodo persiste, mas não é maior que a vontade da aproximação. Não é a minha intenção forçar nada, eu posso vê-lo e desviar o olhar, eu posso vê-lo e fingir que não lhe contemplei nu. Eu posso ficar inerte, e esquecer tudo... Mas não quero. 
   Eu quero os olhos dele em mim para que eu possa escrever uma centena de poemas. Quero a combustão de não saber o que fazer, de não saber pra onde olhar, se ele me olhar de volta. Quero que ele me inspire até abrir um buraco dentro da minha cabeça.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Ele desdenhou daquele poema, e já estou aqui lhe oferecendo este soneto

Dionísio me põe em combustão
Porém, ele é corrosivo demais,
até dentro dos meus devaneios

Ele não merece este soneto
E eu não mereço este café requentado
que bebo enquanto escrevo isto

Mas eu gostaria que ele soubesse que
eu tiro as meias enquanto durmo
e que gosto de cinco colheres de açúcar no mesmo café requentado
Principalmente soubesse que minha cor favorita é azul

Ele personifica todas as conjunturas
E sobrevive na destilação de poesia e pouca fé
Não sei o que será de mim
Só sei que ele não quer saber nada disso

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Eu só quero querer João

Será João, mais do que um personagem
que vive nas frestas de mim
e brota feito erva daninha em meio ao nada?
Somente para me provar que pode sim, ser tudo?
Eu queria que ele fizesse parte dos outros
Que como os outros, mentisse que vai ficar
e sumisse do mapa depois
Mas suas expressões miraculosas estampam minha mente cansada
Pra onde ele vai quando não se mistura na multidão?
Alguém me diz aonde fica ele
quando o expulso da minha vida primordial
e prometo nunca mais trazê-lo para este papel
Depois de tanto travar guerra entre sossego 
e anseio pela morte
Me vejo bem, e me vejo insípida
para acompanhá-lo

Talvez eu não vá além da mulher fatídica 
e perfurada em frente ao espelho
Será que ele está pronto para isso?
Pronto para mim?
Pensando bem, talvez eu seja João
Um verme que habita frestas 
porque não consegue aceitar 
morar no peito de outrem
Se João não combina comigo 
Eu o encaixo junto de qualquer confusão.




quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O exagero me comeu

Olho suas fotografias e me dá vontade de lambe-las
Você é uma vertiginosa tentação contida num poema de Drummond
Quero mesmo lhe assustar com todas as minhas palavras incontidas
Posso lhe enviar poemas aos domingos?
Juro que meu problema maior é ser eu mesma, 
fora isso, só a irracionalidade me abrange
Eu estou encantada, Dionísio 
Qual das mulheres da cidade não estaria?
Você é moço bonito e sabe disso
Mas suponho que não são todas que podem lhe despir 
(só com os olhos)
Eu tive o deleite de percorrer o seu corpo, 
como quem corre uma maratona e não se cansa
Mas agora sinto fome do seu cheiro da sua pele dos seus olhos de gato
E lhe quero mais uma vez, só para essa atração acabar
Antes que acabe comigo.


Título: Mônica Montone

domingo, 30 de agosto de 2015

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Santificada seja a loucura

Eu preciso escrever um poema
Que valha esta confusão
A efemeridade nos deixa enfermos
E gostamos de nos reduzir por coisas pequenas
Como se o mundo se curvasse para tal fragilidade
Ter alguém por algumas horas meses e anos,

não faz diferença
Quando o que temos em troca são apenas ossos amontoados

em charme e desprendimento
Eu gosto de escrever
sobre quem não existe
Farei isso até aparecer alguém
que eu não precise inventar
Queria inventar mais tempo
Pra dar tempo de alguém também me amar
Olhos verdes têm sido a minha sina
Um par mais traiçoeiro que o outro

Já eu, estou amontoada em ossos
e desespero
E igual Adélia, só tenho dois caminhos
Ou viro doida, ou santa.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Dionísio não quer me deixar dormir, e nem sabe

Estou tentando 
não transformar isso 
em uma nova ilusão 
Eu mudei todo o meu trajeto na cidade 
para não passar por você
Assim, propositalmente,
como quem provou e gostou mais do que devia 
Mas eu não sou assim, e preciso tanto
que você saiba
Distraída atalhando esquinas,
você se materializa no meu caminho
num susto tão bom
Então me abraçou 
provando que aquela madrugada 
não fora invenção da minha mente pecaminosa
Não sei o que está acontecendo,
mas eu não deveria estar escrevendo sobre você
Não que você não mereça, não é isto
Você já é uma biblioteca ambulante
Há em você ação romance fantasia drama
e até terror
O meu terror 
de ter tido você e ainda não acreditar
Já está me dando vontade
de agir feito a louca que sou
Mas não sei como você aceitaria isso
Eu podia furar a rua do seu trabalho
Eu podia jogar bilhetes em seu quintal
Ou podia simplesmente fazer de conta
que pra mim foi só aquela noite e nada mais
Assim seguimos nossas vidas, 
nos encontrando em ruas alheias 
e dividindo olhares ternos ou educados
Mas eu quero ser a louca de sempre,
quero que a luz da sua televisão 
seja a única a iluminar 
nossas peles grudadas novamente.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Sem flechas e arpões, você foi meu. Porque sussurrou no meu ouvido que eu seria sua e fui.

Seus olhos me buscavam feito caçador
E há muito tempo eu queria ser a sua caça
Você escorado naquele bar,
somente alguns passos longe de mim
Me olhando devorando consumindo dizimando toda
Como se já tivesse me visto nua
Eu gostei da brincadeira
E depois você comprovou
que eu adoro um bom jogo
Joguei suas roupas no chão,
elas cintilavam com as luzes da televisão
Suas mãos quentes 
até agora não deixaram minha febre esfriar
Você é mesmo tudo aquilo que eu imaginava
Seu sorriso vai da perversão à graciosidade 
em menos de um minuto
Eu gozei só de olhar pra você
e ver você sorrindo enquanto olhava pra mim
Se você não for tudo isso,
agradeça por este endeusamento,
me procurando para sermos um do outro mais vezes 
Ah, eu quero pôr estes seus olhos de gato 
dentro de um vidro em conserva
Só para ter essas pupilas dilatadas dia e noite só para mim
Desculpe soar obsessiva,
mas quero de novo percorrer sua pele macia
e beijar este arcanjo tatuado em suas costas
Prevejo mais uma alucinação poética,
essa chamarei de Dionísio
Deus grego, representante da insânia.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Diluvio nenhum nos explicaria

Era quase dia
Quando se trata dele
não sei ser exata
Então as horas 
pouco importam
Caminhávamos - à toa 
por aquelas ruas 
de casas coloridas
Carregando nossos espíritos 
em preto e branco
Eu falava sem cessar
e João ria tanto
Duas crianças eufóricas 
percorrendo as avenidas
mais bonitas da cidade
Quando ele segurou a minha mão,
entendi o porquê 
de eu ter vivido tantos dias ruins
Mesmo se não houvesse 
predestinação,
meu caminho se esbarra
sempre no dele
Em três meses ou um semestre,
um ano ou dois
Nosso silêncio 
sempre fora estardalhaço
e a saudade sangrenta
Cuja ausência
nunca seria suprida 
por qualquer paixãozinha primaveril
que viéssemos a sentir 
enquanto tentávamos nos perder
em lençóis alheios
Nosso amor é antediluviano
Noé enxergou em nós
o futuro e a salvação
Entramos naquela arca
sabendo que seríamos um do outro,
em todas as vidas.

terça-feira, 30 de junho de 2015

É pra você que eu corro - sempre

Você desanuviou o céu pesado para que pudéssemos olhar para o alto sem receios. Eu viveria para sempre na sua brisa de homem lírico, se eu não me obrigasse a escrever sobre...
Sobre meu encanto latente por seus olhos de azeviche e suas mãos esculpidas por Deuses. O destino equalizou seu timbre para tocar no meu despertador. Dor, a mais bonita senti por você, João. Porque você nunca teve a intenção de me machucar. Eu que grudei o dedinho do pé numa quina qualquer e nunca mais sarou. Mas como você bem sabe, dizer isso hoje não estragará nada, que já não esteja podre há muito tempo. Creio que todos que passam e se vão da minha vida, sempre me direcionam até você. Até você que algemei em meus melhores poemas, que não conhecem a modéstia, pois, levam seu divino nome.
Você nunca me deixa, e como já escrevi outrora, você ressurge quando mais preciso de paixão. Paixão de verdade, que arde mas fica. Obrigada, por merecer o meu corpo e meu desassossego, dormir no teu peito apaga o tempo que não foi bom.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Essa obsessão histórica está tatuada no peito do Tempo

Seus olhos negros
condecoram o seu rosto
de feições plastificadas
Você ainda é
o homem permanecido
O mesmo das praças
e fotografias
Não sei mais o que inventar
sobre você
Você me inventou
para sobreviver
em alguma poesia
E conseguiu
Conseguiu
mexer na minha vida
Lhe batizaria como João,
se este não fosse seu nome
Mas não é esta a vida
Só é este o tempo,
para cansar regando
essa paixão infrutífera
Eu lambi o chão
debaixo dos seus pés
para nunca falar de Amor
Eu errei
para não terminar te vendo
como o errado.

domingo, 19 de abril de 2015

João nunca voltará para casa

Leio suas antigas cartas
e parece que nunca nos perdemos
Sinto o peso de suas firmes mãos
em cada letra tremida 
desse papel agora carcomido pelas traças 
Faz alto inverno no meu corpo 
ao recordar do seu olhar quente
Você leitor, perceba bem a controvérsia
que ele me fez ser
Eu lhe escrevi durante toda a guerra
Nos lemos 
na fome
no frio
na dor
no medo
na esperança 
de vida, após mais um novo bombardeio

A última carta,
eu não sabia que era a última
Numa passagem, disse-me: A vida tem sempre uma desculpa.

Meu João, dize-me então 
em um outro tempo,
noutro espaço de vida... 
a desculpa para nos perder assim?

Hoje, ingenuamente o espero
com chuva e suco de maçã.

domingo, 12 de abril de 2015

Falhando até nos cansar

Eu não escrevo para afagar
Escrevo para fuçar a ferida,
higienizar o que a podridão 
não deixa cicatrizar
Escrevo pelo sangue
que fica mais bonito coagulado
Escrevo porque 
não me deram outra alternativa
Escrevo pra ler mais tarde
e achar alguma mudança em mim
Escrevo porque a dor 
é mais atraente no papel
Escrevo porque cansei de falar,
agora eu só falho.

17/02/2015

quarta-feira, 25 de março de 2015

Não, tu não devias ter ido. Mas era amor perdido.

João me matou
mais vezes do que gostaria de morrer
A primeira vez
quando me sufocou com o travesseiro
no meio da noite
A segunda
quando brincou
de riscar a faca no meu corpo
A terceira
quando falou-me de outra mulher
A quarta vez
quando não me procurou naquele fim de maio
A quinta
quando não se importou
Depois teve uma vez, 
[que não dá pra esquecer]
foi quando me esqueceu
Foram tantas as vezes que ele me assassinou
Em algumas dessas vezes, ele arrependido
tentou me salvar para ser salvo
Fez massagem cardíaca
Pôs esparadrapos no meu corpo retalhado
Não mais falou de outra
Mas na última vez já era tarde
Ele me esqueceu,
eu conformada decorei meu velório
com flores recolhidas nas beiras das estradas
e fechei meu próprio caixão
Chorei por mim mesma.

Eu sou João. Eu me esqueci, eu me matei.

Título: Cecília Meireles

domingo, 22 de março de 2015

João, Jonathan, Jesus

Noite passada sonhei com você
Nunca posso ver o seu rosto 
nesses momentos fragmentados de ilusão
Mas seu nariz continua a ser afrontoso
e suas unhas inacreditáveis!
Igualzinho àquele poema de Adélia,
que lhe enviei junto ao meu coração 
por correspondência

O mesmo diabo que uivava  algemado
nas profundezas do inferno Adéliopradiano,
uiva agora, enquanto te tiro de mim
para lhe pôr em mais este poema.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

João é doença

   Você pode sentar nas pracinhas das fotografias e pensar nas madrugadas em que lia minhas poesias, e me dizia querer saber escrever coisas como eu. Você e toda a sua psicologia, querendo me colocar contra a parede até eu admitir ter escrito uma bela ilusão. Você sentia-se incapaz de inspirar um coração... Você pode continuar a esconder seu rosto nas mesmas fotografias, mas eu lhe vejo como ninguém. Diabólico, mas sem pretensão. Você não quer mudar o mundo, você só quer ser o João. O cara mais louco e sem rumo, que eu coloquei dentro do meu coração. Você me deu tanta segurança, se eu tivesse aceitado me daria seu corpo, papel para toda e qualquer poesia... Mais do que poesia e corpo, eu quis sua alma. Você adentrou aquele dois mil e doze, mas eu só lhe quis em dois mil e treze. Ah, seus olhos marginalizados, por você eu cometi um crime: escrever demais. Eu lhe escrevi na palma da minha mão, na parede do meu quarto e nos banheiros públicos mais fétidos da cidade... 
   Você na minha cabeça, vestindo uma camiseta branca e descansando um cigarro na boca. Você no outro lado da linha reclamando daquele frio de maio, rindo, bocejando, sendo tão menino. Você era tão meu, não sendo. Você é mau, isso sim. 
   Você pode não lembrar mais de mim, nas pracinhas ou em novas fotografias, tanto faz.... Essa paixão maldosa nunca vai ser esquecida. 



quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Cada um com o seu João

Os dias me pediram 
para escrever sobre João
[Peço licença 
para a minha nova paixão]
João não morrerá aqui
Ele não beijava meus pés,
nem pisava nos mesmos
João admirava meus calos 
e até fazia graça da aflição
Não massageava pés
e nem ego
''João'',
eu gosto tanto de escrever esse nome
Como se de cada letra, 
eu absorvesse a poesia necessária 
para perfumar as flores da cidade
João, mantém sua presença
nas nuvens mais carregadas
e na ausência mais indolor
João me esqueceu
só para eu lembrá-lo
em cada nova dor.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Pelo amor ao Masoquismo

Salgo a comida por amor
Bebo chá fervendo por amor
Me mutilo
Me autossaboto
Me odeio
Me esqueço no frio
Me derreto no calor
Gosto de quem não gosta de mim
Gosto de quem vai embora
Gosto de quem não me lê
Gosto de quem lê e não me entende
Eu mesma não entendo porra nenhuma
E gosto do desgosto
de não saber como é gostar de mim
Assim,
sem doenças
neuras
histórias
e acasos
Gosto de não saber como é ser saudável
Gosto do erro,
e de ser errada
Sou a ovelha mais colorida da família
e mesmo assim em mim só enxergam
as escurezas.

26/01/2015

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Os imbecis que não acreditaram em nós e você que não fala mais comigo

Um semestre inteiro
que você não fala comigo
Ficou sem saber
que perdi dois empregos
emagreci
cortei meu cabelo
me chapei mais
chorei horrores
e até virei atriz
Agora dou pra convencer 
que foram só tristes meses 
para lhe esquecer
Seria cômico demais
dizer que no fundo,
bem no fundo
preciso do resto dessa vida
Cara, eu sou do drama,
já devo ter dito
Mas acontece 
que extremismos passionais, 
só são engraçados
e eu quero fazer chorar
todos aqueles
que riram de nós.

(Enquanto eu rio de mim
por ainda acreditar nisso)


13-01-2015

sábado, 3 de janeiro de 2015

João aflora a minha loucura

Eu quero matar João
Quero fazer picadinho
daquele belo tatuado corpo
e guardar no congelador
em embalagens especiais
Eu vou regular o forno
para 180 graus
e fazer um assado para os Deuses
Não saiu nas cartas
essa minha vontade hedionda,
mas a fome que tenho dele
chega até ser digestiva e não só passional
Desejá-lo na cama e no meu prato,
é o amor mais doente que gosto de sentir
Meu instinto de pertencimento escolheu João
Tendo João no meu estômago,
eu jamais pensaria em abandono
Porque ele estaria em mim e não só nestas linhas
O que me difere dos psicopatas,
são só as minhas vontades que não realizo.

Você tinha razão, meu João
Eu te devoraria
somente para o transformar em poesia
Para sempre

Você não morreria
nem se eu te matasse.