sábado, 28 de junho de 2014

Algumas falhas de caráter, quem sabe?

Os mesmos rostos repugnantes,
na minha vida decadente
Quando saio da rotina
estou traindo a mim mesma
A apatia me torna superior
A reclusão nunca fora tão mais cativa
Então respondo ''foda-se'' para tudo
Num frenesi repasso mentalmente
imaginários crimes hediondos
Veja, eu poderia ser tão má
já que a escuridão me abrange melhor
Se as amarras não mais segurarem
a minha Selvageria]
Podem usar esse poema na posteridade
Se acaso eu estampar alguma manchete criminal
Sei que minha fúria me jogará do penhasco,
mas não cairei sozinha
Observo que o que me difere de um psicopata
é o sangue que ainda não tenho nas mãos
Mas enquanto isso disfarço
meu transtorno dissociativo de identidade
só matando dentro da poesia.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Morrendo no processo

É dever da cartomante mentir e cobrar por isso
A verdade pode até libertar, mas ofende
Todos os planos baseiam-se na Ilusão
Ilusão, com maiúscula mesmo pois ela é grandiosa
Eu adoro isso, as dores incorpóreas
As interessantes depressões de botequim 
Eu sendo rock desesperadamente atrás do meu roll 
Eu poderia ser a pista e você o avião
Mas creio ser a valeta e você o inseto
Quero te afundar nas minhas poças
Porque eu só sei gostar assim
Escarrando na cara da minha imaginação
Como bem sabe, Cecília Meireles
Foi lição minha chorar pouco, para sofrer mais
Sabe, pregando as angústias nas paredes
Rindo de nervosa pra despertar qualquer comoção
Almejo um romance que incomode o mundo
Que vá do pacto de sangue até a atração mais obscena
Desde sempre saíram nas cartas
Teu nariz afrontoso e corpo mitológico
Tua beleza também ofende, porque o amor não é discreto
Talvez haja entre nós mais do que a complexa desfiguração
Então quero atear fogo na sua casa se você não me amar
Pois as chamas desse meu secreto inferno 
Sobressaem todos os meus gestos.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Levando apenas esse pouco que não dura

Ontem 
você me deu 
tanto medo, 
por não me dar
um pouco de si. 
Ontem 
eu disse que 
a vida seguiria, 
seguiu sim. 
Só que eu 
parei nessa avenida, 
porque te vi 
no homem 
mais inquieto 
que passou por mim.

[5 de março de 2014]

Título: Vinicius de Moraes





sábado, 14 de junho de 2014

Para ler ao som de Morning Theft, do Buckley

As músicas que eu lhe mostrei, 
desgostou de todas. 
Os livros que lhe indiquei,
iria ler depois, 
quem sabe algum dia.
Os filmes que 
minuciosamente escolhi 
de acordo com seu gosto, 
nem os títulos lhe apeteciam. 
Ele era majestosamente singular
em tudo] 
Nunca vi gostar de tão poucas coisas 
e não gostar de mim. 
Acho que do pouco, 
fui quase nada. 
Sobre o nada, 
ele não tinha profundidades. 
Manoel de Barros que o desculpe... 
Pois dele ainda gosto, 
como quem inventa 
um belo desprezo.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Era bom não saber

Elefantes marchavam 
no meu estômago
Mas até hoje não soube 
se aquilo era paixão





















Ilustração: Diego Sanchez Más Saint Martin

domingo, 1 de junho de 2014

Ai de mim! Ai, ai de mim!

   Queria que o mundo fosse menor hoje. Ontem eu bebi até chorar, porque não o alcanço mais nem no papel.  E eles me chantagearam, "engole o choro se quiser engolir mais vinho". Então bebi, mas terminei de chorar por dentro. Destilada em lágrimas e vinho e paixão barata, a poesia é que me saiu cara. 
   Feliz aniversário, meu anjo das asas quebradas. O céu continua escurecendo, a vida nos contempla de longe. Tu permaneces assim: parado, calado, quieto, sozinho. Na janela, olhando para fora. E eu, eu sonhei que você sonhava comigo. Tal como num conto abismal de Caio F.
   Porém, a verdade é que eu me importo demais pra lhe enviar isso, e prefiro pensar que você vai ficar pensando que eu não penso mais em você. E nesse pensamento, eu penso que, pensar afasta.