domingo, 22 de dezembro de 2013

Soneto pra não dizer nada

A nota mais triste ressoa na gaita
E por tudo que me parece sagrado
Eu não consigo me afastar

Eu escrevo João pra mim
Chico Buarque entende 
essa minha metade afastada

Não te ver é te riscar na memória
pra te manter por perto
Esse encantamento é pura tolice
Do singular ao universal

Eu que sempre quis muito
Hoje acordei pra não te querer
Porque é bonito e dói
E eu vivo nessa contradição 


[16/12/2013]

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Me apodreço com gosto

De novo
um mês que passa
não muda nada

Então deixa eu gastar 
a madrugada
pra dizer que
o que não é fraude é poesia

Quero mesmo
mastigar essas palavras
e cuspir pedras

Vem, finge 
que ainda é cedo
e faz o meu tipo incerto

Me olha 
propiciando vontades
Me desgosta 
até eu cometer uma chacina

Depois senta 
e bebe comigo o chá mais doce
que eu não sei fazer

Consentindo
que lhe escreva
de modo mais 
deliberado profano podre

Como se eu estivesse além
dessa literatura marginal

Daí quando me cansar de você
finjo que sei desenhar
e faço o caixão mais bonito
pra lhe guardar

[como num sonho bom] 

01/12/2013