Leio suas antigas cartas
e parece que nunca nos perdemos
Sinto o peso de suas firmes mãos
em cada letra tremida
desse papel agora carcomido pelas traças
Faz alto inverno no meu corpo
ao recordar do seu olhar quente
Você leitor, perceba bem a controvérsia
que ele me fez ser
Eu lhe escrevi durante toda a guerra
Nos lemos
na fome
no frio
na dor
no medo
na esperança
de vida, após mais um novo bombardeio
A última carta,
eu não sabia que era a última
Numa passagem, disse-me: A vida tem sempre uma desculpa.
Meu João, dize-me então
em um outro tempo,
noutro espaço de vida...
a desculpa para nos perder assim?
Hoje, ingenuamente o espero
com chuva e suco de maçã.