domingo, 19 de abril de 2015

João nunca voltará para casa

Leio suas antigas cartas
e parece que nunca nos perdemos
Sinto o peso de suas firmes mãos
em cada letra tremida 
desse papel agora carcomido pelas traças 
Faz alto inverno no meu corpo 
ao recordar do seu olhar quente
Você leitor, perceba bem a controvérsia
que ele me fez ser
Eu lhe escrevi durante toda a guerra
Nos lemos 
na fome
no frio
na dor
no medo
na esperança 
de vida, após mais um novo bombardeio

A última carta,
eu não sabia que era a última
Numa passagem, disse-me: A vida tem sempre uma desculpa.

Meu João, dize-me então 
em um outro tempo,
noutro espaço de vida... 
a desculpa para nos perder assim?

Hoje, ingenuamente o espero
com chuva e suco de maçã.

domingo, 12 de abril de 2015

Falhando até nos cansar

Eu não escrevo para afagar
Escrevo para fuçar a ferida,
higienizar o que a podridão 
não deixa cicatrizar
Escrevo pelo sangue
que fica mais bonito coagulado
Escrevo porque 
não me deram outra alternativa
Escrevo pra ler mais tarde
e achar alguma mudança em mim
Escrevo porque a dor 
é mais atraente no papel
Escrevo porque cansei de falar,
agora eu só falho.

17/02/2015