sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Melhor calar quando teu nome é paixão

   Acabou o açúcar, será que posso ir na sua casa e usar isso como desculpa para vê-lo? Hoje faz doze dias que lhe vi pela última vez. Ontem vi sua mãe pela janela da sala, imóvel, de costas com um livro nas mãos. Acho que ela gostaria das coisas que escrevo para você. As mesmas que você lê e nada diz. Por medo, quiçá, susto. Ou apenas, desapreço. Meus amigos dizem que você não tem empatia por mim, só essa pose de bom homem que sorri ao me ver, por não querer inspirar nada. 
   Você só pode devolver sorrisos por todas as palavras abrasadas que lhe encaminhei. Você só pode me olhar e rir por dentro, por me ver sendo uma mulher que lhe quer mais do que o comum, como tantas outras por aí. Elas também lhe escrevem cartas, Dionísio? E o que você sente? As deixa sem respostas e quando as vê, sorri, prometendo o mundo, como faz comigo? Juro que quero lhe esquecer, mas também juro que te quero de novo só mais uma vez, para deixar de escrever esses psicodramas. 
   Eu esvazio pateticamente meu coração de maneira assídua, porque o psiquismo de cada palavra não dita me faz tão mais fatalista. Enfatizando uma fragilidade inexistente. Não sou delicada, Dionísio. Só podem me comparar com uma rosa por causa dos espinhos. Se escrevo coisas bonitas, é porque sinto-me enfear a cada segundo que me leva embora.

Título: Hilda Hilst

6 comentários:

  1. Poxaaaa!!!! Que facilidade invejável tem tu ao escrever, ao dispor as ideias, frases, imagens, metáforas... Teus amores, teus projetos, tua ânsia de amar tal mar bravio, teus rompantes, teu imediatismo, tua imaginação fértil, soberba, hostil, assombrosa, feérica. Impressionante, guria. Abraços!

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  2. Adoro a inspiração que Dionísio te proporciona, Hellen, embora a tamanha frieza dele me espante algumas horas. E esse contraste tão grande entre o fulgor e a indiferença que faz seu sofrimento visceral, mas também tão belo.
    Beijos

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  3. Qualquer coisa que escreve se torna maravilhosa, essa sua articulação com as palavras é fascinante, leria até suas receitas de bolo! Abraços!

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  4. Poema de amigo às avessas em prosa!! Gostei.

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  5. Sentir sem restrições nos faz dessas pessoas que não tem meias doses.

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