terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Não cabe no infinito, e é fuga e vento

Você
Vende cores
Não é à toa que é o homem
mais colorido da cidade
Sua loja de tintas
é o contraste daquela rua
Suas cores
desobstruem minha escuridão
Dias cinzas não existem
quando vejo sua loja
vermelha - mesmo que de longe
Leia-me se for capaz,
deveria ter dito isso,
na última vez que o vi
Mas você parece ter medo
Eu morro de medo
As mãos que percorreram
seus ombros largos
São as mesmas que escrevem
essas palavras desencantadas
Quando me ver de novo
Me acaricia com seus olhos selvagens
e me põe o coração disparado
Como se fosse impossível
sentir isso por mais alguém
Seja meu Dionísio
Meu personagem
Meu Deus mitológico
Seja o homem
por quem valha a pena
escrever sobre
Seja mais do que esses olhos verdes
e dono do andar bonito
Seja o que eu penso,
mesmo que eu tenha
me enganado feio
Seja qualquer coisa além
da decoração daquele bar
Seja mais do que o cara
da loja das tintas
que parece um monumento
descansando na porta
Seja o amor drummondiano
que bate na aorta.


Título: Carlos Drummond de Andrade

6 comentários:

  1. Eu nunca vou ter olhos verdes, nem loja de tintas mas um dia eu puder, vou te pintar numa tela, quando me lembrar desse teu poema. Estou aprendendo a pintar, não esqueça de me lembrar.
    Obrigado por esse privilégio de ler, essa experiência que tu respira.
    Saudações

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  2. Sua delicadeza ao escrever sobre um encanto áspero é o que mais me impressiona. Você e Dionísio, o homem de olhos verdes da loja de tintas, vocês dois já se tornaram meu casal literário preferido.

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  3. Adoro esses títulos que você utiliza e, realmente, seus sentimentos não cabem no infinito. Nunca te perguntei isso, mas você já foi a fantasia literária de alguém, Helen?

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  4. É tão fácil te comentar. Meus olhos pregam no texto e escorrem vagarosamente feito lesmas gosmenta e ficam pendurados na ultima frase com preguiça de passar. Eis minha leitura doida, mas verossímil. Beijos, Guria. Fanzaço!

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