Não haveria essa angústia no peito, pois você me enviaria uma mensagem no final da tarde dizendo que o dia foi corrido mas que mesmo assim pensou em mim. Nos veríamos amanhã, você me buscaria com uma música alta no carro e eu me sentiria tão aliviada por poder segurar sua mão enquanto você dirige. Vamos tomar sorvete no calçadão? Eu sempre escolho doce de leite com ameixa, você chocolate. Você nunca liga por eu terminar o meu por último, até derreter e virar nas pernas. Você acha graça. Eu acho graça de viver assim sabendo que você é por mim. Você me passa o controle remoto, me deixa escolher o filme todas as vezes e depois ri, diz que sempre escolho um filme louco. Toda vez que você sai da cama, me dá um beijo no braço. Eu floresço por dentro. Você dorme, eu contorno as sardas das suas costas. Não consigo dormir, não quero estragar esse sonho. Nesse sonho você sabe pedir desculpa, e é sempre delicado. Nunca piegas. Nesse sonho você fala que eu sou um achado. Você é o melhor que já me tocou. Nossa vulgaridade é sempre poética, você me come como ninguém. Na minha cabeça toca Buckley e Fraser no escuro do seu quarto quando te beijo antes de ir embora. As pessoas que passam dentro dos seus carros durante a madrugada e nos avistam na sua sacada sabem, que somos envoltos por essa adoração sagrada, mesmo que obscena. Mordo seus lábios e essa paixão dói em mim, de tão viva.
Não é real.
Nada disso aconteceu.
Não é real.
Nada disso aconteceu.