quarta-feira, 9 de julho de 2014

Há milênios te sei e nunca te conheço

   Te quis com gosto de feijão, pasta de dente e até café. Quis da forma mais errônea, até sem fé. No carnaval que não sei dançar e no tango que só admiro. Assim, assado, cozido e digerido pela minha poesia... Costurado, alinhado em mim. Quis sem querer, até me ver querendo tanto. Te quis com todos os seus amores, mesmo sem me amar. Quis pra fazê-lo mar, mesmo se eu não rio. Quis de verdade pra escrever mais uma mentira. Tu aí em Pelotas, eu aqui no Alegrete, sendo menos alegre. 
   Te quis no outro lado da linha rindo para o meu gravador só para eu sentir mais dor. Quis pra não querer mais ninguém. De modo mais vero-romântico, sobrenatural e aflitivo. Eu abri o meu cotidiano fatigado pra aceitar teu entusiasmo que revigora o meu. 
Te quis, 
logo eu 
que nunca sei 
o que quero. 

Título: Hilda Hilst

[06/06/2014]

9 comentários:

  1. Por você eu iria de ''mala e cuia'' para Alegrete.

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  2. Depois de um escrito desses, só um bobo não iria te querer ainda mais. Muito bom tudo que vem de você,

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  3. O coração escolhe. A mente engole.
    GK

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  4. "Te quis,
    logo eu
    que nunca sei
    o que quero."

    Esse trecho me provocou arrepios de familiaridade.
    O que eu quero é o que eu não quero, essa afirmação ilógica é o que de mais lógico existe em mim.

    Parabéns por tratar tão bem as palavras Hellen!

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  5. Você usa as palavras com cuidado e ao mesmo tempo sinto como se seus textos fossem escritos em um grito.
    Parabéns!

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  6. Que coisa mais linda!
    "Te quis, logo eu que nunca sei o que quero. "

    Beijos

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  7. É, a Gyzelle ta certa, todos os que já viveram a beleza, a força e o deleite da tua poesia, sempre hão de querer-te mais, eu aqui em Pelotas quero. Versos feito os teus são puro encantamento, vir aqui e sentir partes da energia que tu condensa e condena a serem palavras que acariciam, alegra meu velho coração.
    Eu te saúdo e agradeço,
    Saudações!

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  8. Estive pensando que amar é que nem dirigir, passamos muito tempo querendo, aprendemos e depois estamos lá como se fosse a coisa mais natural do mundo. A diferença e não controlar quando, nem para onde.

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  9. "Quis pra fazê-lo mar, mesmo se eu não rio" Meu Deus! Cada palavra uma sentença. Você brinca, lapida habilmente sua escrita, impressiona e aprisiona. Parabéns, guria.

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