terça-feira, 2 de setembro de 2014

E só merece a vida o que é senhor da morte

Eu gosto do que não existe,
e essa coisa ou isso
está no escuro do quarto
quando apago a luz
E em todos os transeuntes
mais estranhos que
decoram as ruas
Essa coisa ressoa pela casa
quando todos dormem
Conversa comigo
quando estou 
com a caneta na mão
Isso que chamo
gentilmente de Coisa
me laça e me lança
ao sem volta
E eu volto
mas só por mim
Essa coisa
está nas gotas fracas
que escapam pela torneira
e nos gatos que desfilam
no meu telhado
A coisa 
está nos agudos
da Eva Cassidy
e em todos os homens,
que me olham com perdição
O que não existe
compõe o meu desespero,
acalenta minha covardia
Essa coisa
habita por detrás
dos meus olhos de pesquisa,
enquanto eu percorro
todas essas lápides
tentando achar o teu nome
Só pra saber se 
você está mesmo nessa vida.

Título: Cecília Meireles

4 comentários:

  1. Um vazio, uma pessoa, um vazio de pessoa, uma pessoa no vazio. Uma falta. Uma pessoa que faz falta, uma falta na pessoa. Falta em mim, falta em você, na pessoa e em todos nós. Da falta nasce o desejo, e do desejo qualquer coisa.

    Belo poema, me cortou logo pela manhã (mas, isso é bom, faz-me sentir vivo e acompanhado!).

    Parabéns. Bjs.
    ]

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  2. Também gosto do que não existe e penso que isso seja um motivo para ser criador de alguma coisa que deixe parte nossa em todo lugar ou na existância, como agora, teu poema.
    Saudações.

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  3. Essa coisa nos corrói e nos faz escrever absurdez. A parte da lápide está perfeita!!

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  4. O que não existe, pelo que me parece tem sido teu grande combustível.

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