sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O senso de realidade degenerou toda a utopia remota

 O meu pesar de hoje tem vista privilegiada. Da sacada do quarto andar eu contemplo a pressa dessa cidade, as flores das sacadas mais próximas... Ainda tenho a visão do ônibus verde esquecido no outro lado da rua, os numerosos carros vermelhos tomando conta do estacionamento do edifício. O portão automático que não fica mais de cinco minutos fechado. O menino com a sua enorme mochila preta, sentado sozinho no playground, e tudo isso acalentado pelo frio agradável. E para além dos fios de eletricidade, eu vejo os campos que espiam a nossa urbanidade, o que faz-me sentir uma delicadeza indizível... Enquanto meus olhos são conduzidos para dentro do furacão e minha caneta dança traçando minhas letras tortas sob as linhas retas, imitando a vida nesse papel. 
   Sinto necessidade de ti, minha escuridão mais iluminada. Você nunca mais me leu, eu não mais te escutei. Mas continuo escrevendo como se fosse te ver no fim desse dia. 
Fui tão boa que, apodreci
Veja, sendo má, floresci  
Quis ser você, aí você se foi.

4 comentários:

  1. Isso me arrepiou mais do que ventania em dia chuvoso "Sinto necessidade de ti, minha escuridão mais iluminada. Você nunca mais me leu, eu não mais te escutei. Mas continuo escrevendo como se fosse te ver no fim desse dia.

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  2. Algumas vezes o perigo de abrir a janela é a vida entrar. É difícil constatar o que não está, mas talvez olhando o mundo percebemos o que precisamos em nós

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  3. Que facilidade de escrever, de dispor das palavras, de brincar, de fazer o que bem quer. Teu olho clinico, critico, percorre o ambiente e discorre sobre a agonia, as sensações, das impressões do meio em tua alma angustiada. Já li, reli, digeri, quero de novo. Tão detalhista e precisa, que encanto, que inveja de tu!

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  4. Pesares tem andares e limites, teus poemas cabem no infinito.
    Saudações, é bom te ler e estar contigo.

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