terça-feira, 24 de novembro de 2015

Me olha como se não tivesse me visto nua e nem lido a minha alma

   Começou a chover. E preciso dizer que não gosto mais de chuva tanto quanto não gosto de cenoura. Sinto-me angustiada, com saudade do que fui e jamais voltarei a ser. Ingênua. A vida é mesmo uma produção de Ingmar Bergman. Pensamentos corrosivos deterioram minha mente, não por punição. Mas maldição, por ter sido crédula demais. A poesia não mais remedia nada, eu sou a própria pedra no meio do meu caminho. Ontem me dei por conta que lhe entreguei aquela carta com um erro de concordância, queria procura-lo para dizer que não sou tão desligada assim. Foi minha emoção exibida que cometeu este erro, mas acho que combina comigo ser a errada. 
   Você não tem nada para oferecer-me, além de uma educação acanhada, então posso aceitar seus míseros olhares sem traduções, até sei lá quando... Será medo? Espanto? Ou uma singela admiração? Nunca saberei, e nisso você seguirá me olhando, até não me reconhecer mais. Porque na verdade você nem me conhece. Você me olhará até eu ser mais uma pessoa indiferente dentre as outras com quem já saiu daquele bar. Eu nunca saberei o que você pensa, e isso vai me importar e me doer até não me olhar mais. 
   E depois? Não sei. Até sete dias atrás eu esperava não mais escrever sobre isso. Há três dias nos olhamos em meio à multidão, como duas pessoas que jamais caberiam numa conta de mais. Talvez eu já tenha entendido, mas o entendimento quando chega, chega sempre brusco. Irônico demais, até para mim. No último sábado lhe vi por menos de 5 minutos, mas me perturbou a noite toda. Lembrar dos seus olhos noturnos cintilando em meio àquela gente toda me causa arrepios até agora. Você me causa danos, somos uma causa perdida.

4 comentários:

  1. Se Bergman fosse vivo te convidaria pra atuar num filme, porque ele saberia que tu compreende a vida com olhos de observadora. Tu é um mar que causa arrepios, essa tua condição de mulher oceânica é mesmo, assustadora.
    Bom fim de semana.

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  2. o amor dói, Hellen. não se machuque assim, você não é a errada, simplesmente é alguém que se entrega, que não esconde a poesia que carrega nos olhos, na vida. ele é quem está perdendo, entenda!

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  3. É engraçado pensar que sempre importa mais para quem sente, como se fosse errado sentir. Fazer o quê, prefiro a dor ao nada.

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  4. Esse homem é a tua perdição. Aceite-o. Não há outro jeito. Aceite-o e se destrua pela poesia.

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