quinta-feira, 26 de maio de 2016

A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, puro susto e terror

Eu gosto de você, homem
Você pode gostar
de outro homem
Que eu nem ligaria
Talvez você goste mesmo
de alguém
Porque sua vida pueril
não parece ter
significância alguma
Se você anseia por alguém
O tanto que anseio por você
Fomos programados
para doer
Você se dói
nos braços das moças
de pernas bonitas
Eu posso pensar
em me doer mais
nos braços dos homens
de barbas bonitas
No intuito da noite valer a pena
Ou o poema
Você não quer mais
falar comigo
e esse desmazelo perfura
Eu não consigo mais chorar
nem cortando cebolas
Minha incredulidade está
abrangendo meu mundo
Você é o pérfido o sujo o vil
Refletindo melhor
acho que você
Só consegue gostar
de si mesmo
Deve se masturbar
em frente ao espelho
Para concretizar sua devoção
Não sei como vou reagir
quando lhe enxergar por aí
Mas que Deus me ajude
a fazê-lo se sentir
desprezado
Como eu me sinto hoje
De mim você não terá
nem educação
Se eu te avistar na rua
trocarei de calçada
Não me sorria mais
Pois eu já descartei
essa perdição
Gosto mesmo é do que inventei
Apenas peguei
sua imagem emprestada
e estou devolvendo agora.


Título: Adélia Prado

5 comentários:

  1. A palavra é mesmo um disfarce, você não sente o que diz. Não aqui, não nesse poema.

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    1. Gostaria que me fizesses uma análise do seu comentário...

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  2. Quantas de nós ainda pegam emprestado uma imagem que causa susto e terror e depois a devolve, por não ser real...

    Tua escrita é genial, como sempre.

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  3. Achava que caminhávamos nessa vida por uma faixa de areia, mas é na verdade cimento molhado, os passos estarão lá por mais que mude de calçada.

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