Amanheceu
Eu passei batom e sai
Querendo que todos me vissem
Vissem o quão feliz eu sou
Mesmo que apenas eu saiba
que sou uma esfarrapada mentira
Sempre chego atrasada
Não sei atravessar a rua
e derramo café na roupa
Coloco os fones de ouvido
e finjo que não dói quando me ferem
Entardeceu
Deito no sofá, fecho os olhos
queria desintegrar, não existir
Leio poesia, finjo que escrevo poesia
Penso nos dias ceifando sonhos
Planos aperfeiçoando meu desespero
Escuto músicas doloridas
e vejo o sol dizendo adeus
Enquanto lembro que certas pessoas
nunca disseram nada
Anoiteceu
Puxo uma cadeira e me escoro na mesa
Olho para o nada
O pão não alimenta, nem o arroz
Me retiro e recito mantras
Amanhã ficará tudo bem...
Esqueço o batom e deito para dormir
Quem sabe eu sonhe e seja feliz mais vezes
E seja menos desastrada e não suje a roupa
E acorde mais cuidadosa e saiba olhar para a sinaleira
E que eu chore quando me ferirem
Porque sou humana
e a vida é besta
Deus e Drummond
souberam disso antes de mim.
Deus e Drummond... muito possivelmente.
ResponderExcluirQue tudo fique bem por ai e que um dia tudo seja entendido como uma grande fase sem sentido.
abraco profundo.
Eu também sofro dessa inquietação poetisa, dessa inadaptação, desse mal estar no fundo. As pessoas que pensam mais, que pensam mais, que sentem mais, sofrem, proporcionalmente mais de todas as dores do mundo. Beijos, guria.
ResponderExcluirVocê escreve de um jeito tão ... (ainda não encontrei o adjetivo ideal, talvez ele não exista). Eu mergulho nas tuas palavras, moça. É tudo tão natural, tão cotidiano, mas tão me vestindo ao mesmo tempo.
ResponderExcluir"Êta vida besta, meu Deus!"
Eu fiquei querendo ter um livro teu pra passar a tarde vazia de hoje lendo.
Um abraço.
♥♥♥
ExcluirO dia completinho e você prepara um poema quente assim à esperar o próximo que se alinha
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