Ele gosta de beijar homens. E ele queria um lugar que pudesse beija-los e ser visto sem pudor e espanto. Ele quer beijar homens durante o dia, longe das quatro paredes e longe do breu da noite. Ele é um desses caras, extremamente bonito que a mãe cobra dois netos e que arruína mulheres com seu perfume e olhar por entre óculos escuros ao cruzar a avenida. Ele quer beijar outro cara, mas ele arquitetou um personagem para si mesmo, aquele que vive nos bares se deleitando nos pescoços da juventude feminina da cidade.
Mas ele beija rapazes porque é o que mais gosta de fazer. Ele está beirando os trinta anos e só quer beijar outro homem em frente ao quiosque, ou dentro do mesmo bar que tenta ter uma ereção ao beijar uma mulher, duas mulheres por madrugada. Ele parte o coração das mesmas quando se deita com elas e faz tudo certo, goza e oferece orgasmos e afagos (e)ternos. Depois nunca mais. Ele continua vazio.
Este papel está lhe cansando. Ele quer beijar o seu rapaz no meio da praça central, depois encostar sua cabeça no ombro dele e suspirar após um dia de poucas vendas no trabalho. Ele quer que a sociedade entenda que ele gosta mais de ser penetrado do que penetrar. Mas ele penetra vidas e borra batons até o raiar do dia enquanto pensa que pode tentar fazer com que suas vontades sejam respeitadas mais tarde. Agora ele só quer ser o homem que beija mulheres como quem toca em algodão doce. Ele é doce, e há sempre alguém que se desfaça.
17/10/2016
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ResponderExcluirNão é ele quem cria um personagem, a sociedade que o vestiu assim. É muito triste.
ResponderExcluirVocê é extremamente sensível por escrever sobre algo tão sério e delicado e ao mesmo tempo o fez muito bem. Lindo.
Que aconteça o que for melhor. Que seja quem pra ele for melhor.
ResponderExcluirO mundo e a vida foram feitas para serem vividas.
forte abraco.
ps- musica linda <3
Seu personagem carrega em si o que sinto ao meu lado dentro de pessoas tão reais quanto. É dolorido. Mas não precisa ser sempre.
ResponderExcluirNão sei o motivo, mas na minha cabeça ficou outro Caetano, falando do coração de eterno flerte. E graças a esse coração, todos os eles como o do teu texto, poderão amar. E que amem. Amém!
Beijo, moça.