quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

O amor que não dá certo sempre está por perto.

   Aquele ar saudosista está pairando por aqui, agora consigo notar as rachaduras dos velhos sobrados da avenida mais movimentada, a sensação é confusa. Mesmo assim, não pertenço a esse lugar. Mesmo se você tivesse me abraçado dentro do meu bar preferido, mesmo se você gostasse de mim... Eu teria que ir embora. Mas ao menos iria sabendo que morei no seu peito. Hoje lembrei da noite que limpei as lentes dos seus óculos com o lenço dos meus, e você me olhou com afeto. Sem imaginar que eu poderia fazer muito mais se você deixasse. Na verdade nunca irei esquecer de todas as pequenezas que constituíram os nossos momentos, mesmo que logo ali na frente você esqueça o meu nome. Até esse minuto presente posso dizer que ninguém me dilacerou dessa maneira, mas o meu coração partido eu sempre colei com poesia. E será sempre desse jeito. Mesmo que o seu jeito me assombre e me rompa em  diminutas partículas de açúcar. Você se desfez tanto de mim, não consegui escrever durante esses três meses, eu precisei desse tempo para sentir isso, sentir meu corpo se desfragmentando naquele evento abarrotado de gente onde outras mãos seguravam as suas mãos no centro da cidade, para todos verem. É compreensível a dor. Meus pés na água fria de Copacabana não esfriou a sua imagem na minha cabeça. Seu nome no meu celular após tudo isso, sua precisão epidérmica de mim espezinha minha crença em grandes pertencimentos. Você me procurou só para comprovar que essa minha paixão é mais elevada que o morro do Corcovado. Eu vou ir embora e você nem sabe, se soubesse não se afligiria pois seria desimportante não me ver nunca mais. Preciso ir, sobretudo para me conhecer e me amar. Para nunca mais gostar de quem me esconde, de quem diz que não pode me ver mais vezes, de quem numa noite me queima no colchão e me esquece no outro dia. Vou ir embora porque nunca mais quero sentir isso.


Título: Cacaso, no livro "Lero-lero".


5 comentários:

  1. Vira o ano e as obsessões continuam, porém, mesmo na lágrima há uma pequena luz de esperança. Ótimo ano, amiga poeta!

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    1. É verdade, Bruno. As obsessões me põe a escrever.

      Ótimo ano pra nós!

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  2. Desde que abandonei meu antigo blog (e me arrependo!), deixei de vir aqui. Agora que abri outro, volto e me deparo com uma das músicas mais importantes pra mim - que também é abertura de um anime igualmente importante, Mushishi. Fica a dica.
    É violento pensar que tantos amores como os nossos se queimam na cama de alguém que depois vai deixá-los para experimentar outros, nunca mais os nossos, e que as cinzas deverão ser carregadas por nós mesmos, né?
    Voltarei mais vezes. Obrigado pelo texto.

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    1. Que interessante, Linniker, não sabia. Vou pesquisar sobre.

      É mesmo, violento demais. Não consigo me habituar a ser mera transeunte na vida de alguém, mas todos parecem não se encantar quando encostam no meu caminho.

      Volte! ♥

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  3. Toda vez que eu volto aqui, e sempre te digo isso, me sinto totalmente completa e surpresa de como você transforma o sentir em metáforas alucinantes e incrivelmente sóbrias.

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