João está indo muito longe nas minhas palavras. Eu estou me inventando de novo. Gosto de gente que me confunde, ele quer ser mais do que minha atração platônica, eu gosto disso. Mas ele é a tempestade que não chega, ele é minha doença que não tem diagnóstico. Igual Cicero... Estou em busca do que é belo e vulgar. João... É assim. Eu o adoro, mas ele não pode saber. Ele só cabe no que gosto de escrever. Por intenção divina, ele esbarra na minha vida quando eu mais preciso de paixão. João, de longe, suaviza meus dias. E fica tudo bem... João, mude o meu mundo se quiser. João, tenha medo não... Te guardo dentro de um devaneio bom. Ah, João.
Se eu contar como te vejo, é capaz de ser assim mesmo... Sentado naquela pracinha das fotografias até a madrugada se desenrolar, comportando um cigarro da forma mais sexy possível no canto da boca.... Sem hora de ir pra casa, porque você está bem agora. Eu gosto disso, de assistir essa tua sessão drugs and rock 'n' roll... E o ponto máximo que podemos chegar, é eu escrever para te imaginar, e a minha vontade de te imaginar colide com tua vontade de se aproximar. Você é tão bonito, e eu ainda nem disse tudo que penso. Porque você recua, por receio do que eu posso descobrir e inventar. E eu me vejo regredindo, mesmo querendo abraçar o delito. Você nunca se vende por completo. É bom estar vivendo essas duas ultimas semanas sem certeza alguma. Talvez seja a atração mais inspiradora que encontrei por aí... Você continua lá, sentado... As luzes da rua, elas não te alcançam. E agora eu só queria segurar o seu rosto e pedir para não se perder de mim, mesmo que você seja só a parte mais bonita dessa ilusão. Está no jeito desajeitado de me dizer algo bonito, está na forma como faz tudo soar estranhamente necessário para mim. Está no modo como o seu nome perpetua na minha voz. Está na minha obsessão em escrever... João.
Não, não quero deixar de escrever só porque tenho de te tirar da minha vida. É tudo tão complexo, como se fosse nada. Mas eu só comecei a escrever porque sabia que te alcançar era quase impossível. Então inventei um jeito... Pretextos, textos e mais textos. Tu nem sabe a cor do meu esmalte preferido, mas sabe que escrevo só por te amar. Mas agora, nos vejo em tudo que não aconteceu, no que não pode dar certo. E a verdade, é que nem dói mais quanto nos meses que passaram. Esse desprendimento atrasado não é nada absorto. Enfadonho é eu escrever toda semana, para tentar dizer adeus. Acabo sempre aqui, sem dignidade por ser tão repetitiva. Então apareça... alimento teu ego, afago tua vaidade... Ainda com prazer. Esperando tu nunca dizer nada. Rafael Iotti, de longe entende. E acho que sente o mesmo, mas ainda escreveu de forma completa e mais bonita. ...acho que nós vamos viver na lembrança até o último olhar fosco pro teto branco e pensar "E se eu estivesse com ele? Será que a minha vida teria sido melhor?" Ninguém pode responder se seria ou não. A vida é feita de precisão, e não de variáveis. A gente vive pro outro, e como eu vivi por ti... Te tenho a melhor lembrança possível, um último abraço, o último cheiro. Perto de ti sou uma arma sem trava, tremo só de ouvir teu nome. Torço por outra vida que a gente se cruze melhor. Tudo é tão simples que é difícil de simplificar. Mas o amor é assim, quando se vê, já está atrás de ti... dizendo adeus.
Aquela semana foi tão cansativa para ele, estradas que não o levaram para casa, bares que abrigam todas as espécies de pessoas tristes... E ele esperando aquele sinal de vida, de consideração, de afeto ou qualquer coisa... O telefone não tocou nas duas ultimas semanas. Não havia esperança, nem dor. Jeff sabia que ela não iria ligar, mas de qualquer maneira ele ainda pensava. Pensava muito. Porque ele não queria virar a página, nem trocar de livro... Talvez fosse obsessão para saber como seria o final, mas eles sempre se perdiam nas primeiras vinte páginas. Ela interpretava a falsa ingenua, ele nem desconfiava que nessa história era um completo frágil. Com seus quase trinta anos, viver para ele, era correr por aí com o seu violão nas costas e cantar até a madrugada o abraçar com tamanha melancolia. Ana portava nos seus dias a rebeldia da idade. Não sabia o que queria, mas queria o que não podia ter. Na ultima quinta-feira que passaram juntos, ele nem se atreveu a contar dos dias que passaria longe da cidade, ela nunca entendera... Não era nem ciumes, era saudade unida ao medo. Ele errou em não ter deixado ao menos um bilhete. Ela ficou tão incrédula, tão brava. Sempre confiou demais no poder de persuasão que tinha sobre ele. E não estava errada, ele era louco confesso por ela. Mas a música o definia como parte do mundo, então ele foi sem avisos. Nesses dias todos, ela parecia ter esquecido ele. Não atendia o telefone, e nem retornava ligações. Ana era egoísta, não podia aceitar a distância que a música queria impor entre eles... Passou semanas e mais semanas. Ele cada vez mais longe, se jogava em suas tentativas frustradas de contato. As oportunidades aumentavam para ele difundir sua carreira na cidade grande, ela só lembrara dele sem raiva quando escutara sua voz no rádio. Ele cada dia mais enfezado por tamanha birra dela, por parecer não notar seus esforços para continuar cantando e ainda não deixar de ama-la. No decorrer dos seis meses que se alastraram... Jeff escreveu-lhe diversas cartas, confirmando seu amor, pedindo que pegasse o primeiro trem e viesse ao seu encontro. Todas as cartas ignoradas. Ele nem sequer se dava o trabalho de acreditar que pudera ter acontecido algo, telefone quebrado, carteiro distraído, algum problema com o endereço... O problema era ela, com sua facilidade de desapego. Ela o amava, sim... Amava de verdade. E sabia que não seria mais uma garota interiorana que ele conhecera naquele buraco de pouco mais de cinco mil habitantes. Completando oito longos meses da sua partida não prevista, ele retorna no intuito de leva-la embora junto dele. Chegando na cidade, soube... Ela se casara um mês antes, com seu primeiro namorado. Ela estava feliz, Jeff estava entorpecido. Ele não sabia se chorava, se esmurrava a primeira pessoa que se pusesse em sua frente. Ele pensou em suicídio, em homicídio. Ele precisou ir embora dali, para finalmente saber que ela não precisava dele apesar de todo amor. Nunca mais se viram, nunca mais deixaram de se amar. Ele cantou até o fim, para nunca mais querer voltar.
Eu quebrei a cara, eu estava por um fio. Só queria guardar esse segredo até de mim, esconder os vestígios do que penso ter acontecido só na minha cabeça. Passou mais de uma semana, eu não consegui voltar pra mim. Eu me perdi na minha conversa fiada, no meu orgulho afiado... Depois de não ter você, eu me cobri com toda a estranheza disponível nessa minha rotina, só para não deixar ninguém gostar de mim. Porque eu não quero gostar de mais ninguém. E todo e qualquer sentimento é uma ofensa, eu sempre crio comparações internas. Peco na vontade de te colocar em outro amontoado de ossos que saiba falar minha língua. Tento derramar o pouco que não tenho de ti no qualquer mais intrigante que estiver ao meu alcance. Agora a causa da minha desesperança é não te alcançar, nem se eu escrevesse milhões de cartas e atirasse nos teus pés as centenas de rascunhos que nasceram do que eu sempre senti sozinha. Nada que vier de mim te impressiona como outrora, ou talvez agora pela primeira vez impressione... Mas estamos naquela, de não termos tempo. E nós ficamos no ar, como as perguntas que não fiz... Com a sua timidez, com o meu medo. Não sei até quando viverei te perdendo para as primeiras impressões do mundo, são tantas incertezas querendo te varrer do meu peito. Também não sei até quando vou me perdoar por ter empacado nessa. Por comodidade, em tua consideração, ficarei aqui jogada no silencio de nós dois. Eu disse que não te procurarei mais. Mesmo sabendo o vazio que isso causará em mim. Já era previsto o rumo disso tudo, mas por ser essa constante mudança, eu mudo meus caminhos para encostar nos teus. E me submeto a ser teu nada, porque eu gosto do jeito que tu se desfaz de mim. E longos anos depois, volta me mostrando o que pode ser real ou não. Se preciso for, sabotarei essa tal realidade, para não te esquecer nas reticências do que me tortura escrever. Eu constato aqui, quero teus braços me aprisionando na minha própria liberdade.