quinta-feira, 31 de julho de 2014

Um certo ar horroroso de terrível depressão

   Cada rua, cada esquina e avenida que já me viu passar carregando mágoa nas costas, sabem que se o tempo de hoje não fosse aquele tempo que perdemos, eu te diria que, te aceito com todas as suas amigas bonitas, até mais do que bonitas e inteligentes te adorando antes de mim. Talvez eu lhe contasse do quanto queria te conhecer pra não precisar te inventar. Percebe que nessa estória, o que é doentio também é tão delicado? A desfiguração, meu bem, nos veste tão bem. 
   Eu nunca pensei num romance com piqueniques com toalha xadrez em parques incrivelmente verdes, quiçá melosidades que não me agradam nem no cinema. Acho que você soube, que o que faz a minha cabeça são as sensações sem rótulos, a poesia sem pretensão e o som dos pratos espatifando-se contra a parede quando tudo dá errado. Talvez em outros dias eu diria que essa minha vidinha mansa me serve, mas a falta de me ver sendo furacão-e-você-a-calmaria-ou-eu-a-calmaria-e-você-o-furacão abisma as minhas melhores memórias.  
   Talvez eu precisasse dizer que esse meu lírico encantamento me maltrata, porque dorme e acorda comigo, porém, não me olha nos olhos. E é sempre desse jeito, eu sem jeito recitando uma atração faminta por alguém que não tem jeito.  

Título:  Lawrence Ferlinghetti

6 comentários:

  1. Dói até o coração ler as coisas lindas e tão íntimas que você escreve, Hellen. Dá vontade de chorar, de te dar todo amor que você necessita. Nós necessitamos. "Talvez eu lhe contasse do quanto queria te conhecer pra não precisar te inventar.

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  2. É como a Gyzelle diz, dá vontade de tudo, mas penso que se você tivesse tudo, nós não teríamos toda essa poesia brandindo em nossa consciência, por certo você não pintaria essas "letras" com essa imensa beleza - quando unidas, tem. Sou egoísta, eu sei, mas te mando um abraço de pensamento, que seja imenso, embora menor que a grandeza que tua poesia tem.
    Saudações,
    Ney.

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  3. Que riqueza de detalhes. Um show de imaginação! Perfeita, Hellen.

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  4. '' E é sempre desse jeito, eu sem jeito recitando uma atração faminta por alguém que não tem jeito.''

    É sempre desse jeito, eu seu leitor incontestável.

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  5. Muito lindo e bem escrito. Parabéns!

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  6. Será que para esquecer também é preciso abrir mão da falta? Todo sentimento dentro de nós é uma faca de dois gumes.

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