sábado, 26 de dezembro de 2015

Os girassóis continuam lá, se destacando entre os pastos verdejantes. Eu estou aqui, ainda comovida. E você, o que lhe faz chorar?

   Vai anoitecer e eu gostaria muito de escrever algo que valesse a pena, que valesse esse desespero. Algo como aquele conto do Caio Fernando, em que a mulher entendeu e aceitou, desaparecendo da janela no exato instante em que ele atravessou a avenida sem olhar para trás. Na verdade eu gostaria de ser ela. Mas se fosse, talvez Júpiter não encontrasse Saturno. Pois eu não teria essa sorte.
   Se isso for alguma forma tortuosa de paixão descrita nos contos de Caio, eu obviamente precisarei de uma bebida forte e mais do que 12 horas de sono. Eu precisarei dos Deuses ou Demônios que me puseram naquele lugar aquela noite. Os mesmos que enxergam o deleite no meu terror.
   Sua pele alvejada não sai do meu imaginário, me faz escrever coisas que me espicaçam sem pausa. Ontem na estrada vi um lençol de girassóis e me comovi e te pensei, como se fosse possível te ligar e dizer isso tudo. Como se fosse possível eu ser especial pra você, como você é pra mim e todos aqui já sabem. Te escondi atrás de Dionisio para não profanar o seu verdadeiro nome. E do meu nome você lembra?
   Anoiteceu, meu bem. Hoje você vai levar mais uma para sua casa, ela não desconfiará que vai estar tirando a roupa para o meu objeto literário. E amanhã você vai continuar vazio. Eu acho isso lindamente triste.

5 comentários:

  1. Pra mim você é a melhor poetisa contemporânea. Você me comove tanto, eu choro te lendo. Dionísio não merece nem um "olá" escrito por você. Ele é podre, vil. Pode ser um Deus esteticamente, mas ser vazio é o que ele sabe fazer de melhor.

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  2. Tu me faz em Van Gogh e os Girassóis, toda a angústia da arte enamorada de sua inspiração. Ele pintava com tina a tela, tu pintas com palavras minha imaginação - e de quem te lê - o que é um deleite para todos que apreciam tua arte, perto ou distantes, penso que todos gostam do "lindamente triste" que ela é.
    Saudações!

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  3. Muito bom. Impactante, atual, um individual que está cheio por aqui e acolá.

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  4. Essa sensação de impotência que "ultraviolenta" a gente por dentro e que a gente esconde no fim de cada dia, como se pudéssemos ver, de dentro do quarto, a pessoas que já foi nossa indo se deitar com alguém é atrofiante. Isso me lembra, inclusive, a Síndrome de Estocolmo...
    Muito bom, o texto. Você mostra um lado muito bonito da tristeza.

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    1. Obrigada pela compreensão. Decorar a tristeza me faz mais humana.

      Feliz 2016!

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