domingo, 8 de maio de 2016

Me afaga com mãos de papel, como se fosse impossível me escrever sem me tocar

   Você se afogou nas águas do Laranjal, nas mesmas águas que estraguei meus fones de ouvido naquele dezembro gelado de alguns anos atrás. Você pisou com os pés firmes descalços na areia, e vislumbrou a profundidade abraçando seu corpo esguio de 1,90 de altura. Você não quis ser só o estudante de psicologia com as pernas tatuadas e que me inspirava poesia apesar da distância geográfica, você queria desaparecer, de Pelotas, do mapa, dos poemas, do meu coração. Porque você não era obrigado a nada. Mas você gostava de ser escrito por mim, como eu amei ter escrito você. Eu queria desaparecer, de Alegrete, do mapa, esquecer dos poemas e mastigar meu coração. Você ainda tem aquele bilhete que lhe deixei na biblioteca? Que eu dizia não ter mais tempo para ficar planejando desfechos para um único personagem, pois existem tantas pessoas lá fora que renderiam bons sonetos... Mas você, você me inspirou um livro todo. E eu passei a ter medo de mim. 
   Te escrevi mais de cem poemas, nos perdemos no meio deles. Você se afogou só pra saber se era de verdade. Um rapaz frustrado que fumava maconha todo o dia enquanto lia Foucault, Jung, Nietzsche, Freud e conversava com uma moça perturbada que só sabia falar sobre escritores malditos. Hoje você é um psicólogo, tenho certeza que ainda frustrado.    
Eu continuo sendo a mesma moça escrevendo sobre caras estranhos que jamais serão você, meu João.

Título:  Dançando na sarjeta (link- poema para joão)

11 comentários:

  1. Os amores que mais certamente não darão em nada são os em que mais comumente investimos tudo.
    GK

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  2. É tanto João querendo ser alguém.... E esse vive em teu poema, em vida

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    1. Você acompanhou dentro e fora da poesia... E bem sabe que um João é sina das bravas, vício memorável. Não gosto das coisas que escrevo, mas se recorro ao marcador J, me sinto florear por dentro por ter sentido algo assim.

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  3. que escrita profunda! que escrita.
    parabéns. não consigo explicar, apenas ler mais uma vez voce.
    que lindo, imensamente lindo.
    parabéns!

    abraço profundo. muito profundo!

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  4. Hellen, entre João e Dionísio tu tens um livro, escreve ...
    paixão não te falta,tem calma e aproveita isso como o dia que vives. E pra que saibas, em teus lábios eu pressinto os poemas mais lindos que nem Dionísio sabia que você sentia e sabia escrever, nem João...

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  5. Uau!!! Um show de detalhes, se supera a cada escrito, ricamente descrito. Quase posso tocar, parece físico. Uma escultura em palavras. Te adoro, minha poetisa. Xêro!

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  6. Você é foda. João pensa não ser ninguém, mas ele é tudo nos teus versos. E por todos.

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  7. Você é foda. João pensa não ser ninguém, mas ele é tudo nos teus versos. E por todos.

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  8. Antes uma poesia inacabada do que uma formação frustrada.

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