Eu escorreguei na nudez dele
E meus pés descalços temeram esmagar qualquer chance
De libertação
Que o tatear captasse
dentro daquele quarto escuro
Dizíamos coisas disformes
Porque não nos importávamos com mais nada
Gonzaguinha poderia rasgar sua voz no rádio
Que continuaríamos inteiros
Dissimulando disfarçando escondendo
Sem revelar jamais
Que poderíamos sim
Caber numa conta de mais
Descendo ladeiras
Vislumbrando um céu de chumbo
Escrevendo sobre a solidão embaixo do viaduto
Em qualquer circunstância
Eu não sei me fazer interessante
para quem me interessa
Quem me despe não me olha
Quem me olha não quer me tocar
Queria que ele soubesse ficar
E fizesse uma planta brotar na minha face
Tão selvagem e impalpável
Áspera e cortante
Só para retratar o contrário
do que sou por dentro
Por dentro eu sou azul
Ele saberia disso se ficasse.
Arte: Agnes Cecile
Gosto dos teus textos. Às vezes, eles tocam feridas, às vezes memórias... Essa foto, inclusive, lembrou um pouco de um desenho recente que fiz.
ResponderExcluirNo mais: muito bom, mais uma vez.
teu texto-poema tem um jeito todo intenso de nos tocar. Cavucou algumas memórias. ♥
ResponderExcluirFui lendo e fiquei sem ar...
ResponderExcluirCapturou muito bem a angústia de quem ama e não sabe o que fazer para o outro ficar...
Beijos, lindeza!
Confissão, sinceridade - mas não sem mistério, sensualidade; Quase platônico, quase uma pintura, quase desalento. Quase amor, quase paixão, quase querer-morrer-de-sentir. Mas antes, desejo.E no meio, desejo. E por fim, desejo.
ResponderExcluirMais um belo texto.
Quando há tanto desencontro, ou mudamos a busca ou nós mesmos.
ResponderExcluir