Penso que comecei a escrever sobre você por causa da sensação de impossibilidade que acometia tudo. No decorrer dos meses, quando fui lhe observando melhor, pude ver que você é a pessoa mais acessível do mundo. Então transmutei a errônea sensação, e assassinei um pouco desse encanto. Eu sempre quis algo limpo, quiçá, imaculado. Algo que não tivesse a intenção de quebrar os meus invólucros, nem a minha sensatez.
Por mais que o sujo me fascine, ele me induz a desejar barbáries, eu morro por dentro quando te penso com outras pessoas... Essa perdição é uma via dupla, quando quero tanto que você me encontre e me enxergue, esbarro no medo de você me ver por aí e eu não estar com o cabelo ajeitado. Sinto taquicardia toda vez que passo perto da rua do seu trabalho, logo depois, sinto remorso por não ter optado por um trajeto mais distante.
São pequenos acontecimentos banais que fazem eu voltar para casa querendo me apaixonar por alguém que possa também me achar interessante quando estiver sóbrio. Mas isso também é banalidade, eu não escolheria me apaixonar por qualquer pessoa que fosse. A paixão é bonitinha só na primeira semana, o resto do tempo é um constante desespero. Poderia dizer que eu não a desejo a ninguém, mas ela abrange todos. Que crueldade!
Depositei em você a minha vontade de ter alguém mais próximo do personagem que eu não saberei jamais inventar.
Esse personagem foi você
na maior parte das vezes
em que me olhou sem me notar
em que me olhou para me adivinhar
em que me olhou sem querer me ganhar
em que me olhou para me magoar
Mas você quis ser o que escrevi
para sentir-se mais mundano
Todas que lhe quiseram, conseguiram
Eu também consegui
Então não há motivos para me entristecer.
07/07