quinta-feira, 20 de julho de 2017

Num sopro de letargia, eu sentia enquanto você abstraía

Enquanto lavo a louça
me pergunto se você pensa
Eu penso muito

Sua mão na minha perna
no caminho da sua casa
Você cantando alto no carro
E sorrindo como quem sabia 
que podia dilacerar minha pretensão

Os meses correram 
e eu te vi parado na faixa de pedestre 
com outra mulher no carro
Talvez com a mão acariciando as pernas dela

E é tudo tão fugaz 
Como se nós não tivéssemos acontecido
E você não tivesse repetido dezenas de vezes que
Gosta do meu gosto
Gosta do meu cheiro
Gosta do meu jeito

Pois sempre haverá 
outros gostos e cheiros e jeitos

No outubro passado 
você me enviava mensagens 
todas as noites dizendo me querer
Ansiando minha presença 
Como se somente eu fosse capaz de preenchê-lo

No último março você sentia a minha falta
Falta dos filmes franceses que lhe apresentei
Falta de tudo

Mas dissipamo-nos entre palavras
Você só me queria 
até onde pudesse vulgarizar 
todos os atos e sensações

Você soube dos outros homens que me feriram
Que me congelaram no tempo
Você me convidou para conhecer o fogo
Quando me aqueceu
Você assoprou o fósforo.






4 comentários:

  1. Nos construímos das cinzas, mas jamais seremos capazes de deixar de queimar.

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  2. Você tem muita sutileza pra capturar momentos. Mesmo quando eles aparecem melancólicos ou saudosos existe uma leveza no modo como você os descreve. Gostei do seu blog. Vou ler com calma e voltarei mais vezes.

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  3. O fogo que aquece, é o mesmo que queima. Nunca sabemos exatamente como ele irá se comportar. Não temos o controle sempre neh?

    Boa semana
    Wellington Maia

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  4. Fogo que arde e se vê. Amo sua poesia.

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