quinta-feira, 28 de abril de 2016

Dionísio não quer morrer

Pensei que eu era a única
a escrever sobre você
Me diga o que você tem
de deliberado ou casual
Que fazem as mulheres 
lhe encaminharem para o papel
Nos encaminhamos para a cama - mais uma vez
Mais além das vezes
que na utopia, eu imaginava
tê-lo dentro de mim
Quando me toquei centenas de vezes,
pensando em suas mãos me descobrindo
[Sem pudor algum,
eu revivo isso no papel agora]
Acho que os Deuses 
me desculparam por esta utopia
Lhe trazendo para mim
Para eu redescobrir após meses
seu cheiro
seu gosto
seus suspiros
[Como se fosse a primeira vez]
enquanto se fazia meu
Meu Dionísio
Minha ruína.

23/04/2016

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Não me deixe apodrecer enquanto espero nosso próximo capítulo

Como se eu fosse intocável
como uma maçã apodrecida
infestada por formigas
Como se eu fosse sucinta
a toda e qualquer brevidade
Sempre irá ficar algo por dizer
Não importa quantas vezes
eu lhe prenda nos meus braços
ou me perca no seu corpo
Somos mesmo essa história engraçada
e difícil de contar
Não quero nos contar
para ninguém
Você me tem de todos os modos
inimagináveis
E eu só consigo me ver caindo
Quero lhe beijar
até esquecer o seu verdadeiro nome
E só conseguir lhe chamar
de Dionísio
Meu homem fadado ao escapismo
Queria pedir
para você não me perder
Mas talvez eu seja tão comum
que não mereça mais do que uma noite
habitando sua pele
Não quero viver com as migalhas
que usurpo de você
Quando decide me olhar
profundamente
Eu não suportaria mais
sobreviver nessa sua sombra libertina
Acho que somos a loucura
que eu jamais poderia escrever
Eu penso em nunca mais
querê-lo
Mas só de recordar o jeito
que me olha
Sinto que não acabaremos assim
Hoje você me disse que,
a gente se dá bem
a gente se quer bem
a gente se faz bem
Possivelmente você nem lembre
Mas eu anotei na memória
Enquanto você recitava isso
feito poesia nos meus ouvidos.

21-04-2016

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Hahahah

                                                   Mas quis a sina que seu peito 
                                                                    Não batesse por mim nem um minuto, 
                                                                   E que ele fosse leviano e belo 
                                                                  Como a leve fumaça de um charuto!
                                                                                                                  Álvares de Azevedo

            


Eu sou capaz de cometer qualquer baixeza
Mas me agride muito, o conflito 
entre apodrecer por pouco
e enlouquecer por nada

As pessoas falam coisas maldosas sobre você
Não sei se as agradeço ou se
as mando para o inferno
No mesmo inferno 
que você não encontrou Dionísio

Essa semana lhe vi
e foi tão perturbador e necessário
Suas expressões 
-mesmo que longínquas-
desesperaram o meu dia

Eu atravessei aquela rua
com receio 
de derrubar meu copo descartável de café
E construir novas esperanças

Eu atravessei aquela rua
com receio de que você me olhasse de volta
E não enxergasse nada

Eu não estou sabendo atravessar
essa fase
Eu não sei nem atravessar a rua 
numa faixa de pedestre
E acho que você sabe disso

Estou presa
na garganta do Diabo
Ele vai me cuspir a qualquer momento
Mas quero que ele me engula
Com a dose mais forte
Que me empurre lá para baixo
Pois, preciso encontrar Dionísio 

Porque no mais profundo dessa insanidade
ele não se encontra em mim.

sábado, 9 de abril de 2016

Todos temos uma Bettie Page

Eu estou bebendo muito
e correndo tanto, 
de qualquer coisa que possa me destruir 
ou me inspirar 
por dois ou três poemas

Me sinto como um rapaz 
vivendo nos anos 50
com um pôster da Bettie Page 
atrás da porta do quarto
Desejando o que nunca vai ter

Não sei se corto o cabelo 
ou mudo o meu trajeto rotineiro

Seus olhos de pesquisa 
jamais compreenderão 
minhas perplexidades

Se eu escrevo muito 
é porque não vivo nada
Se eu escrevo pouco 
acho que não sei viver direito

Já disse que tenho bebido muito? 
Tenho falado coisas apavorantes, 
me declarando 
mais do que o Ministério da Saúde adverte

A tenuidade 
entre o bom senso e a loucura 
divide minha devoção

Você sabe de tudo
E saber que você sabe
vai matando aos poucos o meu lirismo

E eu sei
que a solidão vai nos engolir, meu bem.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Sobre a cegueira opcional

Da janela
do sétimo andar
do consultório
do meu oftalmologista
eu vejo a vida
acontecendo]
Com essa vista
é possível enxergar
tudo direito.

domingo, 3 de abril de 2016

De andar em andar, passo meus pensamentos em fodas abstratas. A água acaba. Vou-me. Mais uma noite. Neste bar. Paquerando minhas lembranças. Sonho vai. Sonho vem. E me pego sozinha. Obrigada!

Toda vez que beijo
um cara mais interessante
do que você
Eu tento me lembrar o porquê 
de ter lhe criado um personagem
Você é tão insensível
Me faz lembrar 
do que Manoel de Barros já dissera
Que a poesia
não é algo que se possa
incorporar com os olhos sujos
de realidade
Após a cegueira inicial,
hoje você só tem sujado meus olhos
Você é mesmo tudo aquilo que eu supunha 
E eu me tornei perecível por isso 
Exausta de encanto
Por algo inevitavelmente precoce

Nunca mais quero vê-lo



Título: Do conto Cheiro de erva, Emir Rossoni