Disse-me que gosta tanto,
de ver a chaleira chiar.
Como se com nós conversasse,
contando urgências...
Ele desencaminha nosso assunto,
ganhando meu tempo.
Faço seu café,
tentando lhe devolver o foco.
Ele me olha como quem quer tudo,
e eu só quero algumas palavras.
Já passara da meia-noite
e ele agora troca o hálito do ar
com seu cigarro barato.
Pergunta se tenho por hábito
oferecer café para desconhecidos
largados no meio fio...
Disse que o conhecia
talvez de outra louca vida.
Ele disse que louca sou eu;
e que meu café é amargo.
Pediu-me papel e caneta,
colocou o bilhete em minhas mãos
e saiu sem dizer nada...
Num espasmo li:
''O demônio que habita em ti, já morou em mim.''
Só consegui pensar,
que não perguntei o seu nome.
Desculpe a delicadeza.